A combinação de remédios que surge como esperança contra o melanoma
Estudo aponta que azacitidina e carboplatina podem aumentar significativamente a sobrevivência de pacientes com a doença avançada
Pesquisadores do HMRI – parceria entre a Universidade de Newcastle, Hunter New England Health e a comunidade – nos Estados Unidos, descobriram que uma combinação de duas drogas já existentes aumenta significativamente o tempo de sobrevivência de pacientes com melanoma – tipo mais grave de câncer de pele – em estágio avançado e resistentes ao tratamento convencional.
Liderados pela professora Nikola Bowden e pelo médico Andre van der Westhuizen, do programa de pesquisa de medicamentos da HMRI, as descobertas foram publicadas na revista Cancer Research Communications, da Associação Americana de Pesquisa do Câncer.
O teste de reaproveitamento de medicamentos se concentrou em pacientes com melanoma em estágio terminal, cujos cânceres se tornaram resistentes ao tratamento de imunoterapia de primeira linha. Foram utilizados fármacos conhecidos como inibidores de checkpoint imunológico (ICB), que interferem na capacidade das células cancerígenas de “se esconder” do sistema imunológico, permitindo que o próprio corpo do paciente combata o câncer.
A equipe descobriu que, ao tratar pacientes com uma combinação de dois medicamentos quimioterápicos já aprovados, azacitidina e carboplatina, eles conseguiram “ressensibilizar” as células cancerígenas ao tratamento com ICB. “Neste artigo, mostramos em um estudo de fase II que o tratamento com esses remédios pode ser eficaz para anti-imunoterapia (Avelumab) em pacientes com melanoma avançado resistente a ICB”, afirmou Nikola.
A equipe investiga esses medicamentos desde 2015. Entre 2017 e 2021, 20 pacientes receberam os dois quimioterápicos reaproveitados para se ‘prepararem’ para um tratamento de imunoterapia subsequente. Dentre eles, a maioria sobreviveu em média 47 semanas, sendo que quatro continuam vivos até hoje. “Para alguns dos pacientes, era como se os tumores estivessem congelados e permanecessem os mesmos por muito tempo. Alguns até experimentaram uma redução no tamanho e número do tumor”, contou a professora, que explicou ainda que o teste de reaproveitamento de drogas foi combinado com uma nova forma de imunoterapia. “As células do melanoma enviam um sinal ao sistema imunológico que diz: ‘Eu deveria estar aqui’. A combinação de quimioterápicos mobiliza o sistema imunológico para atacar os tumores enquanto a imunoterapia bloqueia esse sinal”.
O estudo foi inicialmente financiado pela Hunter Melanoma Foundation e doações da comunidade. A segunda etapa de ensaios clínicos está em andamento com medicamentos de imunoterapia atualizados. “Os resultados iniciais sugerem que esse grupo de pacientes está se saindo ainda melhor com os novos medicamentos”, finalizou a pesquisadora.