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Vacinas contra notícia falsa

Se algo não merece confiança, não passe para a frente

Por Claudio de Moura Castro
Atualizado em 4 jun 2024, 16h36 - Publicado em 16 mar 2018, 06h00

Em um texto escolar centenário, o filho pergunta ao pai o que é “plebiscito”. Não querendo revelar sua ignorância, o pai desconversa. Hoje, antes de perguntar ao pai, o filho já estaria no Google. No passado, faltava informação. Hoje somos inundados pelo seu excesso. O desafio agora é descobrir o que conta e o que merece confiança.

Vejamos alguns conselhos simples. De início, quem não sabe nada do assunto é presa fácil de mentiradas ou bobagens de boa-fé. Cultura é a primeira linha de defesa. Por exemplo, quem estudou um pouquinho de física sabe que o moto-perpétuo é uma impossibilidade, portanto ignora inventos desse tipo.

Uma regra útil é conhecer a identidade do autor. Anônimo na internet ou nas redes sociais é mentira instantânea e impunidade eterna. Portanto, sem autor, nem vale a pena prestar atenção. Mas, havendo autor, se é mentira, rola alguma cabeça?

Perguntemos: o autor é conhecido, respeitado e achável? O seu currículo atesta a sua competência no assunto? Pelé entende de bolas, mas não de pilhas. Padre entende de junk bonds ou de FMI?

Quem publica sofre as consequências se a inverdade é revelada? Os jornais Folha de S.Paulo e Estadão exibem o nome do redator responsável. VEJA é um para-raios para ações por difamação. Tem bastante cuidado, portanto, com o que publica. Edições voltadas para gente mais educada têm de ser mais criteriosas. Boas editoras de livros, antes de publicar, selecionam com cuidado, inclusive consultando especialistas. Em revistas científicas, os artigos são revisados por acadêmicos que não são identificados e não sabem quem é o autor.

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Nada disso garante 100% a veracidade. Por exemplo, Alan Sokal redigiu um ensaio que foi publicado em uma revista acadêmica séria. Em seguida, o próprio autor denunciou a revista, afirmando que o artigo era propositadamente um punhado de asneiras, sem nenhum sentido. Apesar de tais casos pitorescos, quanto mais exigente a publicação, mais confiança merece.

Conforme o assunto, temos de nos precaver ainda mais. O que dizem aqueles que pensam de modo diferente? Há consenso entre os entendidos no assunto? Para quem trabalha o autor? Quem financiou o estudo (pesquisas associando cigarro a câncer, se financiadas pelas fábricas, merecem pouca confiança)? Como disse Upton Sinclair, é difícil fazer uma pessoa entender quando o emprego dela depende de não entender.

Como se pode ver, desmascarar mentiras dá trabalho. Se quisermos verificar tudo, nossa vida se esvairá nessa empreitada. É preciso, então, ser seletivo. Diante de uma bobagem ingênua ou inverossímil, sorrimos, nada mais. Outras afirmativas podem ser sérias mas não merecem maior gasto de tempo. Será que Colgate é a escolha dos dentistas? Mas quando recebo uma gravação do Cristovam Buarque dizendo que já está combinada a tomada de poder por um grupo de militares, isso é sério. E-mail para ele, que me responde em seguida: totalmente falso, era um impostor. Conselho final: se algo não merece confiança, não passe para a frente.

Publicado em VEJA de 21 de março de 2018, edição nº 2574

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