Com a rapidez de tudo o que vai e vem na internet, com o verão de 2019 veio o refrão adesivo: “O nome dela é Jenifer / Eu encontrei ela no Tinder / Mas ela faz umas paradas / Que eu não faço com você”. A letra, escrita por um coletivo goiano especializado em produzir sucessos, atrelada à batida forte do arrocha, mistura de axé e forró, fez o pacote espalhar-se como febre — em menos de seis meses, chegou a 60 milhões de audições no Spotify. O clipe, protagonizado pela atriz Mariana Xavier, a Jenifer da canção, também colou — são, até hoje, mais de 230 milhões de visualizações. Tudo somado, o cantor Gabriel Diniz, nascido em Mato Grosso e criado na Paraíba, virou celebridade instantânea, dentro de camisas coloridas, num estilo que ele mesmo definiu, certa vez, como uma “mistura de Michael Jackson, Elvis Presley e Freddie Mercury”.
GD, como gostava de ser chamado, embarcara na cauda de um cometa pendurado nas redes sociais — o próximo desafio seria provar que não era estrela de um único hit. Não deu tempo. Na segunda-feira 27, ele morreu aos 28 anos, no sul de Sergipe, em decorrência da queda de um avião monomotor que o levava de Feira de Santana, na Bahia, onde fizera um show, a Maceió, ao encontro da noiva, a psicóloga alagoana Karoline Calheiros. Morreram GD, o piloto Abrão Farias e o copiloto Linaldo Xavier. A Agência Nacional de Aviação Civil informou que a aeronave não tinha autorização para fazer serviço de táxi-aéreo. “Dormi celebrando a vida, acordei com a notícia do acidente desse jovem talento no auge de um sucesso que ele generosamente compartilhou comigo”, disse Mariana Xavier. A morte de Diniz remete a uma outra interrupção de trajetória no início da fama, a da banda Mamonas Assassinas, em 1996, apesar de uma diferença monumental: os Mamonas explodiram em programas de televisão. Diniz era produto típico da era, atavicamente efêmera, das redes sociais.
A beldade solitária
Antes de assinar-se Lady Francisco, a atriz global foi Leyde Chuquer Volla Borelli Francisco de Bourbon. O excesso de sobrenomes combinava com a criação meio aristocrática em Belo Horizonte, onde o pai construiu uma fortuna respeitável e a mãe exigia que as filhas vivessem impecáveis. Considerada o “patinho feio” entre as irmãs, Lady se esforçava para provar o contrário. Chegou a vencer pequenos concursos de miss, mas completou a missão quando se tornou símbolo sexual na TV ao encarnar a secretária boazuda Rose, que trabalhava para Carlão (Francisco Cuoco) em Pecado Capital, de 1975. Teve uma carreira longa e instável na emissora carioca, e a vida no Rio de Janeiro não foi das mais fáceis. A atriz passou por problemas financeiros (sua família faliu). Também revelou, mais tarde, que havia sido estuprada no início da carreira por um diretor da Globo e, em outra ocasião, por um grupo de homens na rua. Casou-se apenas uma vez, recusava namorados e dizia que preferia os bichos aos seres humanos. A vida solitária não minou sua simpatia e a característica risada pueril. Além de atuar em novelas globais, ela fez rádio, teatro, cinema e passou pela Rede Record. Lady Francisco morreu no sábado 25, no Rio, vítima de falência de múltiplos órgãos após complicações de uma cirurgia no fêmur. Tinha 84 anos.
Publicado em VEJA de 5 de junho de 2019, edição nº 2637
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