O Nobel de Economia não faz parte dos prêmios originais concebidos por Alfred Nobel em 1895. Mas, por iniciativa do Banco da Suécia, desde 1968 a distinção vem sendo concedida aos pesquisadores que fizeram avançar o conhecimento na ciência econômica. Tradicionalmente, os premiados se debruçaram sobre questões como o crescimento econômico, a desigualdade e o desenvolvimento social, o comércio internacional, a inflação. Uma novidade surgiu em 2002: o psicólogo israelense Daniel Kahneman foi o primeiro não economista a receber o prêmio. Era um reconhecimento pela Academia Sueca de que a compreensão da economia deveria avançar para novas fronteiras. Era um reconhecimento também de que o Homo economicus, o ser racional movido pelas opções mais lucrativas possíveis, não passava de uma ficção. Os mercados podem operar de maneira previsível em boa parte do tempo, mas seu funcionamento só pode ser compreendido levando-se em consideração uma boa dose de irracionalidade — afinal, as pessoas agem muitas vezes de maneira completamente inesperada.
Na semana passada, a Academia Sueca anunciou que o prêmio deste ano irá mais uma vez para um pesquisador da economia comportamental: o americano Richard Thaler, professor da Universidade de Chicago — curiosamente, a Santa Sé da ortodoxia e da teoria dos mercados racionais. Thaler foi um dos autores do best-seller Nudge — O Empurrão para a Escolha Certa (2008), escrito em parceria com Cass Sunstein. No livro, os economistas avaliam situações nas quais as pessoas não tomam as decisões necessariamente mais vantajosas para elas e para suas comunidades, por serem influenciadas por fatores como ideias preconcebidas ou o contexto. Por isso as pessoas deveriam ser incentivadas com um tapinha na direção correta, um empurrãozinho (nudge, em inglês), e assim seguir o rumo mais apropriado.
É o caso da doação de órgãos e da poupança para a aposentadoria, duas áreas nas quais Thaler colaborou no desenvolvimento de campanhas para incentivar a maior participação dos americanos.Estudos como esses influenciaram políticas públicas ao redor do mundo. “Fiz minha carreira roubando ideias de psicólogos”, afirmou Thaler. “A lição mais importante é que os agentes econômicos são humanos, e isso precisa ser incorporado aos modelos.” O economista Eugene Fama, também de Chicago e ganhador do Nobel de 2013 pela hipótese dos mercados eficientes, deu os parabéns ao colega, mas ressaltou que haverá muita discussão ainda sobre se os agentes econômicos são racionais ou irracionais. Provavelmente, ambos estão certos: são dois lados de uma mesma moeda.
Publicado em VEJA de 18 de outubro de 2017, edição nº 2552