Em um raio de até 10 quilômetros do Vulcão de Fogo, na Guatemala, vivem 100 000 pessoas. No domingo 3, o gigante entrou em erupção e uma avalanche de gases letais, cinzas e pequenos fragmentos rochosos, chamada de nuvem ardente ou fluxo piroclástico, desceu bem rente ao solo pelas encostas e soterrou vilas de agricultores em menos de vinte minutos. Em geral, a temperatura desses deslizamentos, que se movem a uma velocidade de até 150 quilômetros por hora, passa de 1 000 graus. No mínimo setenta moradores morreram depois que a corrente entrou pelas portas e janelas das casas. “Quando o fluxo atinge uma pessoa, ela é praticamente incinerada pelo vapor e coberta pelas cinzas em um processo instantâneo, semelhante ao que aconteceu em Pompeia no ano 79, na erupção do Vesúvio”, diz Leila Marques, professora do curso de geofísica da USP.
O efeito sobre os corpos é tão devastador que as equipes do governo tiveram dificuldade em colher as digitais dos mortos ou reconhecer os rostos. O processo só poderá ser concluído com amostras de DNA. O vulcão não sofria uma grande erupção havia pelo menos quatro décadas. Assim que a poeira esfriar, a população deverá retornar à sua morada. As encostas do vulcão são as melhores áreas para plantar café e cana-de-açúcar, e muitos habitantes do país dependem do cultivo da terra. “Quem é de fora obviamente só pensaria em se mudar de um lugar como esse, mas as famílias que vivem nessa área estão lá há gerações. Elas não sentem o mesmo estranhamento que os outros”, diz a geóloga inglesa Helen Murray, da Universidade de Bristol, na Inglaterra.
Publicado em VEJA de 13 de junho de 2018, edição nº 2586