A inabilidade em controlar o tempo diante de uma tela de jogo eletrônico, o hábito de priorizar a brincadeira digital em detrimento de qualquer outra atividade e, pior, a tendência a ignorar essa dependência — tudo isso agora são condutas oficialmente reconhecidas como desordem mental. Em junho, o “distúrbio do jogo eletrônico” passa a incorporar a 11ª Classificação Internacional de Doenças (CID) da Organização Mundial da Saúde (OMS). A inclusão significa que médicos e profissionais dos mais de 100 países que hoje usam a CID, entre eles o Brasil, estão autorizados a diagnosticar como portador de doença mental o usuário de jogos que se encaixar no perfil descrito no protocolo. “Trata-se de um comportamento crescente e preocupante em todo o mundo”, disse a VEJA Tarik Jasarevic, porta-voz da OMS. “Há evidências da relevância clínica dessas condições e do aumento da demanda por tratamento.” No rascunho do documento adiantado pela revista New Scientist, pesquisadores sugerem que os potenciais portadores do transtorno devem ser observados por um período superior a doze meses antes de receber um diagnóstico.
Na Coreia do Sul, uma lei de 2011 proíbe que menores de 16 anos joguem games entre meia-noite e 6 da manhã. No Brasil, estimam especialistas do Hospital das Clínicas, ao menos 10% da população tem algum tipo de vício digital. “Os principais tratamentos são a psicoterapia cognitiva e muita orientação familiar”, diz Cristiano Nabuco, psicólogo e coordenador do Grupo de Dependências Tecnológicas da Faculdade de Medicina da USP. Catalogado o possível distúrbio, cabe agora à ciência avançar na direção da sua cura.
Publicado em VEJA de 10 de janeiro de 2018, edição nº 2564