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O deputado 125540

VEJA acompanhou a rotina de trabalho do parlamentar que durante o dia despacha no Congresso e à noite se recolhe a uma cela da Papuda

Por Marcela Mattos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 19h09 - Publicado em 17 nov 2017, 06h00

No deserto do Congresso em pleno feriadão, a presença do deputado Celso Jacob, do PMDB do Rio de Janeiro, chamava atenção — mas não era um exemplo de diligência. Em junho, o parlamentar foi condenado a sete anos e dois meses de prisão em regime semiaberto, o que significa que ele pode trabalhar durante o dia, mas tem de dormir na cadeia. Na Papuda, a penitenciária de Brasília, Celso Jacob, de 60 anos, é o detento número 125540. À noite, fica numa cela de 12 metros quadrados, na ala destinada a vulneráveis. De segunda a sexta, exceto nos feriados, Jacob acorda antes de o sol nascer, veste-se e, sem tomar café, dirige-se às 7 horas em ponto ao estacionamento do presídio, onde uma Santana Quantum 1995 o espera.

10h18 Passeando no Congresso vazio
10h18 Passeando no Congresso vazio (Cristiano Mariz/VEJA)

10h45 Cuidando da aparência
10h45 Cuidando da aparência (Cristiano Mariz/VEJA)

12h07 Continua o passeio no Congresso vazio
12h07 Continua o passeio no Congresso vazio (Cristiano Mariz/VEJA)

O carro pertence a uma funcionária do gabinete do deputado, cujo salário é de 2 300 reais. Os 20 quilômetros que separam a Papuda do Congresso são percorridos em 35 minutos (o veículo tem uma multa por excesso de velocidade no trajeto). Ao chegar à Câmara, o deputado começa sua transformação de presidiário em parlamentar. Depois de ir ao gabinete, sua primeira atividade é tomar um banho quente (na prisão, a água é gelada) e trocar de roupa (o uniforme da Papuda é calça e camiseta branca). O desjejum vem na sequência. Numa semana normal, ele tem uma agenda de reuniões. Em semana de feriadão, não havia nada para fazer, e o dia do parlamentar se resumiu a ir ao caixa eletrônico, à barbearia, ao restaurante — e a falar ao celular, tudo dentro do prédio do Congresso, de onde só pode sair com autorização judicial. Por isso, o deputado não desgruda do aparelho (na prisão é proibido usá-lo).

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12h35 No almoço, bacalhau à lagareiro
12h35 No almoço, bacalhau à lagareiro (Cristiano Mariz/VEJA)

14h08 Sacando dinheiro
14h08 Sacando dinheiro (Cristiano Mariz/VEJA)

Além de conversar com a família, amigos e advogados, Jacob repassa notícias de seus companheiros de cadeia que não podem deixar a Papuda. Um de seus interlocutores é João Ricardo, filho do diretor da JBS Ricardo Saud. Na hora do almoço, na terça-feira, Jacob foi ao restaurante dos senadores. Pediu de entrada um creme de abóbora com carne-seca, bacalhau à lagareiro como prato principal e, de sobremesa, uma bavaroise de açaí recoberta por praliné de castanha-do-pará (o cardápio da prisão foi arroz, feijão, frango empanado e purê de batata). Pagou 44,15 reais — ou melhor, não pagou. As refeições, como a conta de telefone, são pagas pelo contribuinte. Só de reembolso de comida e ligações, Jacob recebeu 5 335 reais, de julho a outubro.

19h23 Fim de expediente
19h23 Fim de expediente (Cristiano Mariz/VEJA)

19h50 Voltando para o presídio
19h50 Voltando para o presídio (Cristiano Mariz/VEJA)

Sua constante presença no Congresso se explica: para cada três dias que trabalha, abate um dia da pena. No recesso de julho, quando também não se faz nada, ele “trabalhou”. O estudo também reduz o tempo de prisão. Na Papuda, fez um curso de licitação (o deputado foi condenado por fraude a licitação). Foi aprovado com média de 7,7. Jacob é o segundo deputado-presidiário da história da Câmara. O primeiro, Natan Donadon, foi cassado depois da condenação, em 2013. Naquela época pré-Lava-Jato, o decoro achava inadmissível a presença de um parlamentar-presidiário. Mas isso foi naquela época.

 

Publicado em VEJA de 22 de novembro de 2017, edição nº 2557

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