Não é incomum que, depois do desejo de tatuar o corpo, brote a vontade de fazer o oposto, retirar a tatuagem — três em cada dez pessoas tatuadas decidem pela remoção. As sequelas da extração, contudo, podem ser feias. No lugar do desenho ficam manchas e cicatrizes. Os dermatologistas sempre buscaram uma saída que permitisse não estragar a pele após a eliminação da pintura. Recentemente, cientistas do Centro de Imunologia de Marseille-Luminy, na França, identificaram os mecanismos de absorção das tinturas — e a descoberta pode abrir uma avenida de oportunidades que permitiria a volta da tez a seu estado inicial.
Acreditava-se, até hoje, que os pigmentos dos desenhos apenas coloriam a derme onde ficam os fibroblastos, as células que sintetizam colágeno (composto que dá sustentação à pele), e lá permaneciam para sempre — e que somente sessões a laser seriam capazes de dar sumiço à tatuagem. A novidade: os pesquisadores observaram que as células de defesa do organismo, os macrófagos, identificam a tinta como uma ameaça ao corpo e a ingerem. Mas os macrófagos não dão conta do recado — os grânulos de tinta são volumosos demais e parte do pigmento permanece retido. Com o tempo, essas células morrem, os pigmentos são liberados e aspirados por novos macrófagos. O ciclo, então, recomeça. “A descoberta quebrou um paradigma de décadas”, diz Jardis Volpe, dermatologista de São Paulo. Na prática, portanto, é um atalho para a criação de tecnologias de remoção mais pontuais.
Submeter-se aos tratamentos atuais de remoção não significa apenas o ganho de marcas — custa caro. A extração com o laser de picossegundos, o que há de mais novo no mercado, exige ao menos quatro sessões a cada seis semanas, ao custo de no mínimo 1 000 reais cada uma. O valor pago para remover uma tatuagem do tamanho de uma moeda de 1 real pode ser nove vezes maior que o desembolsado na aplicação do desenho.
O passo dado pelos especialistas franceses precisa de tempo para ser adotado. Enquanto isso, trata-se de minimizar os danos. Uma solução é alterar o traço, em vez de extraí-lo. O clássico exemplo é o do ator Johnny Depp. Em homenagem à atriz e então noiva Winona Ryder, ele tatuou no braço “Winona Forever” (Winona para sempre). Depois de três anos, com o fim do relacionamento, Depp apagou apenas as duas últimas letras do nome da atriz, o que resultou na frase “Wino Forever” — bêbado para sempre.
Publicado em VEJA de 6 de junho de 2018, edição nº 2585