O regime cubano chama isso de eleição. Candidatos que não eram do Partido Comunista foram impedidos de pôr seu nome na cédula para disputar as vagas de delegados municipais nos conselhos que administram as cidades. E, no domingo 26, quando foi realizado o arremedo de votação, dissidentes foram proibidos de sair de casa ou detidos durante todo o dia sem acusação formal. Outros chegaram aos centros de votação e não encontraram o próprio nome nas listas de eleitores. A propaganda oficial afirma que as urnas são custodiadas por “pioneiros alegres”, como são chamados os estudantes do ensino fundamental que, escolhidos pelas boas notas, precisam bater continência e dizer “votou” toda vez que uma cédula é depositada. Além deles, as escolas estavam cheias de membros da polícia política e das brigadas que reprimem de imediato qualquer princípio de manifestação. A foto na parede da seção eleitoral acima, em Havana, é do herói da independência José Martí (1853-1895), famoso pela máxima antiamericana “vivi no monstro e conheço suas entranhas”, em referência à sua temporada nos Estados Unidos. Ausente da cena está o ditador Raúl Castro, de 86 anos, que promete deixar o posto de presidente em fevereiro. É improvável, porém, que ele se desfaça dos demais títulos, como o de primeiro-secretário do Comitê Central do Partido Comunista. Deve continuar mandando nos bastidores, como fez seu irmão Fidel Castro quando se afastou por problemas de saúde mas manteve sua influência. Nas entranhas do monstrinho político cubano, só entra quem Raúl Castro quer.
Publicado em VEJA de 6 de dezembro de 2017, edição nº 2559