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Não ouvem, nem gritando

Jaques Wagner é espinafrado por petistas por sugerir duas verdades: que, como candidato, Lula está morto, e que, sem fechar alianças, seu partido naufraga

Por Silvio Navarro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 17h29 - Publicado em 4 Maio 2018, 06h00
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  • Enquanto o PT tentava em vão transformar os festejos do Dia do Trabalho num ato em defesa do ex­-presidente Lula, o ex-governador da Bahia Jaques Wagner disse em Curitiba aquilo que todo petista se nega a ouvir: que o partido, enfraquecido como nunca, deveria considerar a possibilidade de ir às urnas a reboque de um candidato de outra legenda, como o ex-ministro Ciro Gomes, do PDT. “Sempre defendi a ideia de que, após dezesseis anos, estava na hora de ceder a precedência. Não conheço na democracia ninguém que fica no poder por trinta anos”, disse ele à imprensa. Trata-se da primeira declaração de um petista de peso nessa direção desde que o ex-­presidente foi preso, há um mês.

    As afirmações ocorreram dias depois que o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad se reuniu com Ciro Gomes em um encontro sem alarde — desde o início da pré-campanha, eles já se encontraram duas vezes. Ao contrário do que ocorre com a cúpula do PT, Haddad se dá bem com o pedetista, o que alimenta a tese de uma eventual chapa com o petista como vice. Ciro foi comedido ao comentar as afirmações de Wagner: “Temos de aceitar, compreender e respeitar o tempo do PT para o que quer que seja”.

    A manifestação do ex-governador baiano causou mal-estar no PT. Porta-­voz de Lula desde a sua prisão, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) atacou Wagner, dizendo que o baiano só demonstra empenho em reeleger o governador Rui Costa (PT) em seu estado e se “esqueceu” do amigo preso em Curitiba. Gleisi defende a manutenção, pelo PT, da candidatura de Lula até a convenção em julho. E, quando a sua substituição for inevitável, que seja por um petista. “O Ciro não passa no PT nem com reza braba”, descartou. Com sua inclinação irreversível para a hegemonia, o PT acha que com um candidato de outra sigla pode empurrar os movimentos sociais para o colo de Guilherme Boulos (PSOL) ou Manuela D’Ávila (PCdoB). Por 38 anos, Lula uniu o PT. Agora, preso, parece que começa a dividi-lo.

    Publicado em VEJA de 9 de maio de 2018, edição nº 2581

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