Último Mês: Veja por apenas 4,00/mês
Continua após publicidade

Está tudo dominado

Ministério do Trabalho: corrupção, propina, fisiologismo, pagamentos suspeitos, processos fraudados, falsificação, arrombamentos — e inação do governo

Por Thiago Bronzatto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 16h44 - Publicado em 9 mar 2018, 06h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Em setembro do ano passado, o secretário executivo do Ministério do Trabalho à época, Antônio Correia de Almeida, pediu demissão. Aborrecido, disse ao então ministro, Ronaldo Nogueira, do PTB gaúcho, que estava saindo por não concordar com o que acontecia dentro e fora de alguns gabinetes da pasta. Sem medir as palavras, deixou claro ao chefe que o ministério havia sido tomado de assalto. Listou uma série de irregularidades que passavam por gente importante, que ocupava cargos importantes e era indicada por gente mais importante ainda. Casos grotescos de falsificação de assinatura em processos, sumiço de relatórios, saques suspeitos realizados em fundos estatais e pagamentos ilegais. O ministro ouviu tudo atentamente — e nada aconteceu.

    Em fevereiro, Antônio Correia formalizou suas denúncias à Polícia Federal. Entregou documentos e e-mails que mostram como o PTB usa o ministério para atender a interesses políticos e financeiros de dirigentes e pessoas ligadas ao partido. Na semana passada, uma reportagem de VEJA revelou um esquema de corrupção que envolve acólitos do deputado Jovair Arantes (PTB-­GO), líder do partido na Câmara. Em uma gravação, um empresário negociou o pagamento de 4 milhões de reais em propinas com uma lobista para destravar um registro sindical no Ministério do Trabalho. Verusca Peixoto, a lobista, confirmou que parte do dinheiro seria entregue a Rogério Arantes, sobrinho do deputado Jovair Arantes. O responsável pela agilização do processo dentro da pasta seria Leonardo Arantes, outro sobrinho de Jovair — personagem para o qual também convergem agora as denúncias de Antônio Correia.

    Em dezembro, após a primeira acusação do ex-secretário executivo, o ministro Nogueira deixou o cargo para cuidar, disse ele, de sua campanha eleitoral. Para comandar a pasta, depois do escândalo Cristiane Brasil, o PTB resolveu indicar Helton Yomura, apaniguado do ex-deputado Roberto Jef­ferson, presidente da legenda. Para a função de secretário executivo, o PTB escolheu Leonardo Arantes, que já ocupava o posto de secretário de Políticas Públicas de Emprego. A composição política foi chancelada pelo presidente Michel Temer. Nogueira, o ex­-ministro, Yomura, o atual, e Leonardo Arantes, o segundo na hierarquia, são o alvo das denúncias feitas pelo ex-secretário executivo à PF.

    Denúncias – Documento enviado à PF pelo ex-secretário executivo do ministério: operações ilegais orientadas pelos representantes do PTB
    Denúncias – Documento enviado à PF pelo ex-secretário executivo do ministério: operações ilegais orientadas pelos representantes do PTB (//Reprodução)

    A trinca é acusada de diversas irregularidades. Conforme relato da testemunha, em abril de 2017, a Controladoria-Geral da União (CGU) solicitou a suspensão dos pagamentos feitos pelo ministério à empresa de tecnologia B2T, contratada para ajudar a detectar fraudes nos pedidos de seguro-desemprego. Mesmo com essa proibição, o então ministro Nogueira e o gabinete de Leonardo Arantes autorizaram os pagamentos, burlando as restrições da CGU. “Algumas vezes, o ministro se queixou para mim: ‘Devo lealdade ao Jovair (…) Porque você sabe: o Jovair me pede. Eu estou no cargo por indicação dele’. E ele mandou pagar uma das faturas da B2T”, disse a VEJA Antônio Correia. “Teve até falsificação de assinatura para viabilizar os pagamentos e gavetas arrombadas para sumir com documentos”, diz. A B2T nega qualquer irregularidade.

    Continua após a publicidade

    Outro caso envolve saques irregulares de contribuição sindical para algumas entidades no valor de 11 milhões de reais. A liberação dos recursos foi autorizada pela superintendência da pasta em Goiás. “Isso passou por gente do Leonardo Arantes. O superintendente de Goiás, que atestou a devolução, é indicação dele”, acusa o ex-secretário executivo. De acordo com ele, o esquema é tão grotesco que uma das entidades beneficiadas tem sede na Bahia mas, por alguma razão, protocolou o seu pedido de restituição em ­Goiás — e, magicamente, recebeu autorização para sacar o dinheiro antes mesmo de o processo ser protocolado. O trio da pesada — os petebistas Nogueira, Yomura e Leonardo Arantes — nega qualquer irregularidade.

    Em nota oficial, o Ministério do Trabalho informou que tanto o caso do pedido de propina quanto as revelações de Antônio Correia estão sendo “averiguadas”. No PTB, o presidente da legenda, Roberto Jefferson, limitou-­se a dizer que a sigla “vai tomar as medidas que julgar necessárias”. Já o líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes, afirmou que não autorizou o uso do seu nome, seja por lobistas, seja por qualquer outra pessoa, “em tratativas com entes públicos”. O governo vai anunciar nos próximos dias uma reforma ministerial. Na mudança, o PTB deverá continuar firme no comando do Ministério do Trabalho.

     

    Publicado em VEJA de 14 de março de 2018, edição nº 2573

    Publicidade
    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Veja e Vote.

    A síntese sempre atualizada de tudo que acontece nas Eleições 2024.

    OFERTA
    VEJA E VOTE

    Digital Veja e Vote
    Digital Veja e Vote

    Acesso ilimitado aos sites, apps, edições digitais e acervos de todas as marcas Abril

    1 Mês por 4,00

    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 12,50 por revista)

    a partir de 49,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.