Acometido por um tumor no cérebro, o senador republicano John McCain faleceu no sábado 25, aos 81 anos. Para sua despedida, foram convidados os ex-presidentes Barack Obama, democrata, e George W. Bush, republicano. Piloto capturado e torturado na Guerra do Vietnã, ele seguiu carreira na política e tornou-se conhecido pelo patriotismo, pelas opiniões próprias e pela lucidez que o fez avesso às banalidades populistas hoje tão em voga. Criticou as torturas da CIA no Iraque, votou contra o fim do Obamacare, assim batizado o programa de saúde de Obama, e atacou a aproximação com a Rússia promovida por Trump. Em seus últimos dias, deixou claro que não gostaria da presença do presidente Donald Trump em seu funeral. Foi com relutância que a Casa Branca baixou as bandeiras a meio mastro.
Para muitos, McCain foi um símbolo da resistência a Trump dentro do Partido Republicano. Mas isso não passa de uma quimera. “Os democratas têm enaltecido McCain porque ele foi muito desrespeitado pelo presidente, mas não há republicanos criticando Trump”, diz o cientista político Martin Geoffrey Cohen, da Universidade James Madison, no Estado da Virgínia. McCain nem sempre foi um opositor feroz. Após sua recusa em acabar com o Obamacare, no ano passado, alinhou-se com Trump para cortar verbas da saúde. Outros nomes de peso seguiram o mesmo caminho. Mitt Romney, candidato republicano nas eleições de 2012, disse na última campanha presidencial que Trump era uma fraude, não era esperto e tinha um temperamento instável. Recentemente, Romney elogiou sua habilidade extraordinária para entender como a economia funciona e como pode criar empregos.
A explicação é que, para os políticos que dependem dos votos republicanos, não há como se opor a Trump. Quase dois anos depois da eleição, ele é aprovado por 85% dos republicanos. “Qualquer um que queira ganhar a nomeação no partido hoje precisa do apoio do presidente”, diz o cientista político americano David Karol, da Universidade de Maryland. Faltando nove semanas para as próximas eleições legislativas, o domínio de Trump sobre seus colegas é quase absoluto.
Congressistas desgostosos com sua prepotência desistiram da reeleição. É o caso de Paul Ryan, o líder republicano na Câmara dos Deputados. “Não importa o que aconteça, o Partido Republicano terá a cara de Trump”, afirma o cientista político americano Thomas Schaller. O próximo pleito colocará em disputa a liderança republicana na Câmara e no Senado. Em um país onde o voto não é obrigatório, o resultado dependerá da capacidade dos partidos de empolgar seus eleitores a sair para votar. Entre os republicanos, não há dúvida de que os fãs de Trump são os mais animados.
Publicado em VEJA de 5 de setembro de 2018, edição nº 2598