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“É fantástico. É incrível”

Equipe internacional localiza, com vida e boa saúde, meninos perdidos em caverna. O maior desafio será tirá-los de lá antes que as águas voltem a subir

Por Duda Teixeira Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 16h37 - Publicado em 6 jul 2018, 06h00
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  • Quando o mergulhador inglês John Volanthen emergiu das águas lamacentas dentro de uma caverna e avistou os vultos de alguns garotos, pediu, em inglês, para que eles levantassem as mãos. Na escuridão, um deles, chorando, disse: “Thank you”. Aos poucos, outras sombras mirradas se aproximaram, iluminadas pela lanterna. Volanthen perguntou: “Quantos vocês são?”. Ao ouvir a resposta, disse, empolgado: “Treze? Brilhante!”. Todos os desaparecidos havia nove dias estavam, portanto, vivos e sãos. A cena foi gravada com uma câmera de capacete na segunda 2 de julho e colocada em seguida no Facebook pela Marinha da Tailândia. Em dois dias, o vídeo teve 22 milhões de visualizações. Parentes dos meninos comemoraram do lado de fora. “É fantástico. É incrível”, extasiou-se o voluntário belga Ben Reymenants, proprietário de uma escola de mergulho em Phuket, uma praia paradisíaca da Tailândia.

    A mobilização para salvar os garotos reuniu 1 000 pessoas de todo o mundo. Os chineses enviaram seis socorristas com um robô aquático. Os Estados Unidos mandaram especialistas em resgate da Força Aérea, que ficam sediados numa base na ilha japonesa de Okinawa. Austrália, Mianmar e Laos também enviaram equipes para se juntar aos fuzileiros tailandeses. Horas depois do encontro inicial, os meninos foram assistidos por sete mergulhadores, incluindo um médico e uma enfermeira. Os garotos tiveram feridas curadas, receberam mantas térmicas e foram alimentados com gel de carboidrato.

    Uma operação internacional assim, montada em tão pouco tempo, só pode acontecer em um mundo interconectado. A história de que os garotos tinham ficado presos com a elevação dos cursos de água por causa da chuva (leia o quadro na página seguinte) despertou empatia mundial. É o que a psicologia chama de “efeito da vítima identificável”. Os seres humanos são muito mais propensos a ficar sensibilizados quando conhecem o rosto e o nome de alguém que precisa de ajuda. No caso, os doze garotos, com idade entre 11 e 16 anos, que tinham ido treinar futebol. Todos eram membros do mesmo time, o Javali Selvagem. O técnico deles, de 25 anos, tinha o costume de levá-los para alguns passeios. Os treze estacionaram suas bicicletas à porta do complexo de cavernas e entraram. A notícia de que não conseguiram sair correu o planeta quando o mundo já assistia à Copa da Rússia. Ao serem encontrados, nove dias depois, os garotos vestiam camisas de uniforme vermelhas e azuis.

    O encontro com os meninos não é o fim da história. Agora, é preciso tirá-los da caverna, onde estão ilhados pelas águas. A primeira opção é aguardar até outubro, quando acaba a temporada de monções e as águas baixam. Eles já receberam alimentos para aguentar por quatro meses. “Se as demais necessidades forem atendidas, o único problema que eles terão ao final será psicológico, por causa do confinamento prolongado”, diz o espeleólogo Marcelo Rasteiro, da Sociedade Brasileira de Espeleologia. A segunda é ensiná-los a mergulhar para que possam sair nadando e submergir nos trechos de águas subterrâneas. Essa opção traz inúmeros riscos. A água é turva, sem visibilidade alguma. Em vários pontos, seria impossível subir para a superfície em caso de pânico. “Decididamente, não é uma ideia atraente treinar pessoas que nunca fizeram um mergulho para que saiam de um lugar inundado, com diversos espaços estreitos”, diz o geólogo americano Andy Armstrong, membro da Comissão Nacional de Resgate em Cavernas, nos Estados Unidos. Uma terceira alternativa seria retirá-los por alguma fenda, por cima. Os garotos relataram ter ouvido latidos de cães e galos cantando, mas nenhuma abertura foi encontrada. A questão é que a pior alternativa pode se tornar a única. “Os socorristas precisam trabalhar rápido porque uma tempestade deve chegar na sexta 6. Se começar a chover, a caverna ficará toda inundada”, disse Ruengrit Changkwanyuen, coordenador dos mergulhadores, ao jornal The Guardian. “Se isso acontecer, ficará quase impossível mandar suprimentos ou manter contato com eles.”

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    Com reportagem de Thais Navarro

     

    Publicado em VEJA de 11 de julho de 2018, edição nº 2590

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