“Com isso aqui vai dar para alimentar uma vila inteira quando eu voltar para a Coreia do Norte”, disse um alegre Kim Jong-un enquanto segurava o durião, uma jaca espinhenta típica da Ásia, e uma bandeja de arroz com frango. Ao passear animadamente por um dos calçadões mais movimentados de Singapura, ele ficou deslumbrado com o que viu. “Aqui é como Pyongyang, exceto pelo fato de ter internet rápida, comida boa e muito dinheiro”, afirmou, ostensivamente cercado por turistas. O detalhe: era tudo brincadeira, tudo farsesco. O Kim Jong-un da foto é uma criação do sino-australiano Howard X (nome artístico). Baterista, ele chegou a estudar música por dois anos em várias cidades do Brasil, e hoje é um respeitado produtor de bandas de bossa nova com sotaque chinês. Nos últimos cinco anos, tem faturado também como empresário de outro artista, o americano Dennis Alan, que personifica o presidente Donald Trump. Mas diverte-se mesmo encarnando o ditador da Coreia do Norte.
A dupla formada por Howard X e Dennis Alan apareceu com estardalhaço nos Jogos de Inverno da Coreia do Sul, em fevereiro. “Nossa foto viralizou na internet. Quem sabe aquela imagem não tenha inspirado os verdadeiros Jong-un e Trump a sentar-se juntos e bater um papo?”, diz Howard X. Os sósias já estão confirmados para farrear em Singapura neste mês, mas ainda é incerto se o Trump e o Kim reais vão se encontrar como planejado, no dia 12. No fim de maio, Trump cancelou o evento alegando hostilidade por parte dos norte-coreanos. Logo depois, voltou atrás, e a indecisão prossegue. Parece troça, mas não é.
Publicado em VEJA de 6 de junho de 2018, edição nº 2585