Em razão da velocidade da era digital, e das características dos políticos que dominam a cena atual em Brasília, assuntos de pouca relevância têm ganhado um destaque desproporcional — inclusive na imprensa. Debates acalorados sobre a liderança do PSL, sigla que muitos brasileiros seguem desconhecendo o significado — em que pese o fato de estar completando um ano que ela chegou à Presidência da República —, ocupam mais espaço na rotina de parlamentares que temas realmente marcantes para o desenvolvimento do Brasil. Trata-se de um novo Febeapá (Festival de Besteira que Assola o País), para usar o título da série de textos imortalizados por Sérgio Porto, cujo primeiro dos três volumes saiu em 1966, escritos com o objetivo de descrever a descomunal quantidade de bobagens cometidas pelos poderosos da ocasião. Infelizmente, vivemos tempos muito parecidos, mas com duas brutais diferenças: o grau de exposição propiciado pelas redes sociais e a falta de superego dos próprios personagens envolvidos. Na ânsia do aplauso fácil, há quem invista em qualquer coisa — de ataques delirantes a instituições como o STF e o Congresso à periodicidade dos trabalhos intestinais dos compatriotas. Parece apenas uma comédia sem graça, no entanto é algo bem mais grave: irresponsabilidade.
Eis que entre tantos debates sem nenhuma relevância, Brasília finalmente produziu algo notável: a aprovação da reforma da Previdência, que proporcionará uma economia de 800 bilhões de reais nos próximos dez anos. Tal iniciativa precisa ser reconhecida e saudada como um marco importante na história do Brasil. Embora pudesse ter um impacto ainda maior e ser mais rigorosa com algumas carreiras do funcionalismo, a emenda aprovada pelo Senado na quarta 23 é a maior mudança no sistema de aposentadorias do país — até agora, um fator de desequilíbrio dramático nas contas públicas. Além de evitar um colapso econômico nos próximos anos, a votação aponta para um futuro mais promissor, em que temas polêmicos são enfrentados e resolvidos. Nos capítulos a seguir, mantendo o foco naquilo que realmente faz a diferença, autoridades e excelências em Brasília precisarão se debruçar sobre as reformas tributária e administrativa. Só desse modo os investimentos nacionais e estrangeiros sairão da geladeira para impulsionar o crescimento e a geração de empregos.
Na condução desse virtuoso processo, é fundamental reconhecer o papel de figuras como o ministro Paulo Guedes, da Economia, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Mesmo diante de pequenos obstáculos, e das picuinhas do cotidiano, ambos permaneceram firmes na execução do projeto. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, também não decepcionou e mostrou comprometimento com os rumos do país. Devem-se ainda admitir os méritos do presidente Jair Bolsonaro. Ele teve a humildade de rever uma posição histórica em defesa das corporações e enviar ao Parlamento uma pauta absolutamente impopular. Ao participar de tal façanha, tomara que o presidente entenda a grandeza do seu feito e passe, daqui por diante, a se concentrar em matérias com envergadura semelhante — e não nas miudezas que ele, sua família e correligionários promovem no dia a dia.
Publicado em VEJA de 30 de outubro de 2019, edição nº 2658