Os holandeses são pouco lembrados quando o assunto é colonização. Mas, enquanto Maurício de Nassau (1604-1679) ocupava partes do Nordeste brasileiro, a Companhia das Índias Orientais explorava um lucrativo comércio de noz-moscada e cravo nas ilhas do Sudeste Asiático que hoje integram a Indonésia. No século XVIII, os holandeses deixaram para essa colônia uma herança exótica: a disputa do pau de sebo. Eles colocavam presentes no topo de mastros lustrados com graxa e óleo e os habitantes tinham de se esforçar para pegá-los. Como os paus ficavam muito escorregadios, era preciso agir em grupo, com vários homens empilhando-se uns sobre os outros. Em 1945, os líderes do país declararam independência, aproveitando-se da derrota do império japonês, que tinha invadido suas ilhas. Ainda assim, foram necessários mais quatro anos para expulsar totalmente os europeus. Na língua local, o pau de sebo é chamado de panjat pinang. É uma das principais atrações do Dia da Independência, que se comemora em todo 17 de agosto. A festa é tão animada que os participantes levam a esposa e os filhos para assistir à brincadeira. Depois de alcançarem o topo, marcado com a bandeira nacional, vermelha e branca, os homens precisam descer os presentes, que podem ser bicicletas, eletrodomésticos, sacolas de comida. Os prêmios são divididos entre todos os integrantes da empreitada, irmãmente. Os chatos da vez são contra a diversão, pois acham que é degradante e constitui resquício do período colonial. Outro problema é a quantidade de árvores que precisam ser cortadas e limpas para a cerimônia. Quem não quer brincar pode ver tudo do chão.
Publicado em VEJA de 23 de agosto de 2017, edição nº 2544