Uma das lendas em torno do italiano São Francisco de Assis (1182-1226) diz que ele trazia gravados no corpo os cinco estigmas do Cristo pregado na cruz. As marcas — os cravos nos pés e nas mãos e a ferida no peito — eram sinais de que o frade compartilhava os sofrimentos físicos e morais de Jesus. Em uma missa no domingo 26, no Santuário de Knock, na Irlanda, o papa Francisco, que é jesuíta, desvaneceu-se em uma expressão de abatimento e tristeza. “Nenhum de nós pode deixar de se comover perante as histórias de menores que sofreram abusos, foram despojados de sua inocência, afastados da mãe e abandonados à deformação de dolorosas recordações”, disse o pontífice, incorporando as chagas deixadas pela pedofilia na Igreja. Durante a viagem, ele conversou com oito vítimas de padres pedófilos. O escândalo, como se sabe, é muito maior. Duas semanas antes, um relatório americano havia revelado que 301 padres abusaram de mais de 1 000 crianças durante sete décadas no Estado da Pensilvânia. No mesmo domingo, o papa ainda enfrentou a ira do arcebispo italiano Carlos Vigano, ex-diplomata do Vaticano nos Estados Unidos. Em onze páginas, ele o acusou de ter acobertado denúncias contra Theodore McCarrick, um ex-cardeal. Vigano afirmou que o papa Bento XVI destituiu McCarrick e, anos depois, Francisco o reabilitou, nomeando-o seu conselheiro. Sem que fossem mostradas evidências, o papa preferiu o silêncio. Desde que começou seu pontificado, em 2013, Francisco tem sido criticado por conservadores da Igreja Católica. Vigano é um deles. O grupo não aceita a abertura para os divorciados e os gays.
Publicado em VEJA de 5 de setembro de 2018, edição nº 2598