“Não olhe!”, gritou um assessor presidencial, mas não adiantou. Contra todas as recomendações, Donald Trump, pondo em risco a saúde das próprias retinas, olhou diretamente — sem óculos especiais, sem filtros — para o eclipse solar que maravilhou os Estados Unidos na segunda-feira 21. Só depois seguiu o exemplo da primeira-dama Melania, ao seu lado na foto, e recorreu a uma proteção para os olhos. Uma atitude temerária mesmo tendo-se em conta que, na capital americana, a Lua cobriu apenas parcialmente o Sol. (Só quem se encontrava numa estreita faixa entre o Oregon, na Costa Oeste do país, e a Carolina do Sul, na Costa Leste, foi presenteado com o eclipse total.) Trump agindo de forma temerária e ignorando exortações de cautela — isso é Trump sendo Trump. O presidente está sempre precisando de um filtro; não só para olhar para o Sol, mas também e especialmente para exercer o cargo com mais galhardia. Mas filtro anda em falta na Casa Branca, como demonstram suas declarações erráticas (porém indisfarçavelmente favoráveis aos neonazistas) a respeito da violência racial em Charlottesville, na Virgínia, há duas semanas. Um dia depois de se deixar ofuscar pelo Sol, Trump afirmou, no Arizona, que a culpa toda é da imprensa, que distorce suas palavras. “Antifa!”, ironizou, valendo-se da corruptela da palavra “antifascistas”. Põe os óculos, presidente.
Publicado em VEJA de 30 de agosto de 2017, edição nº 2545