A Quarta-Feira de Cinzas foi marcada pela divisão da classe política em relação às mensagens publicadas no Twitter por Jair Bolsonaro (PSL) – a principal delas trazia um vídeo com cenas obscenas entre dois homens em um bloco carnavalesco e foi usada pelo presidente para criticar o Carnaval. Em outra, ele perguntou aos seguidores o que é golden shower, a prática sexual registrada na gravação, que consiste em urinar no parceiro.
A oposição está unida na crítica a Bolsonaro. O deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP) afirmou que irá entrar com uma representação contra o presidente por pornografia. A hashtag #ImpeachmentBolsonaro chegou ao primeiro lugar dos assuntos mais comentados do Twitter.
De outro lado, governistas divididos entre a defesa da postura do presidente, com o foco na condenação do ato obsceno realizado em público e a crítica a um uso que consideram indevido das redes sociais. Pertencente ao segundo grupo, a deputada estadual eleita Janaina Paschoal (PSL-SP) afirmou a VEJA que Bolsonaro “precisa entender que ele, agora, fala pela nação e que o que ele compartilha e escreve é visto pelo mundo”. “Eu até entendo que os excessos do Carnaval preocupam, mas o presidente poderia ter externado sua preocupação de outra forma”, completou.
Uma das autoras do pedido de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, Janaina alerta que Bolsonaro “se cerca de pessoas que não falam a verdade para ele”, mas considera exagerado quem defende uma cassação do presidente, baseada em uma eventual quebra de decoro. “Curioso ver o pessoal que insiste ser golpe um impeachment alicerçado em fraudes gravíssimas querer afastar o presidente por um tuíte”, afirmou. Ela também considera que, como estavam “performando em público”, os exibidos pelo vídeo não tiveram as intimidades afetadas por Bolsonaro.
Eu até entendo que os excessos do Carnaval preocupam, mas o presidente poderia ter externado sua preocupação de outra forma
Janaina Paschoal, deputada estadual (PSL-SP)
No Congresso, parlamentares do PSL e de legendas aliadas adotam posições divergentes. Líder do partido do presidente na Câmara, Delegado Waldir (GO) disse a VEJA que a “Constituição prevê a liberdade de expressão e ninguém vai censurar” Bolsonaro e que o chefe do Planalto está apenas seguindo seu plano de governo. “Esse é o primeiro Carnaval da gestão Bolsonaro. O que se vê no vídeo é herança da esquerda. Daqui a quatro anos, veremos o legado do governo”.
Líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-SP) se pronunciou, concentrando sua fala também em ataque à esquerda. “Esquerda lacradora pirou com a divulgação do vídeo por Jair Bolsonaro, mas NÃO deu um pio sobre a situação promíscua, sobre o ato libidinoso – portanto criminoso – feito a céu aberto […]. É só a esquerda sendo esquerda, cada vez mais hipócrita”, escreveu pelas redes sociais.
Mesma posição teve a deputada Carla Zambelli (PSL-SP). “Se Bolsonaro tivesse receio de chamar o errado de errado e de expor cada crime e obscenidade praticados pela esquerda, ele não teria sido eleito presidente da República”, disse a ativista, conhecida por liderar o movimento Nas Ruas. Assessor especial do presidente para assuntos internacionais, Filipe Martins comparou o chefe ao americano Theodore Roosevelt, definindo a Presidência como “uma posição pública que permite falar com clareza e com força sobre qualquer problema”.
Esse é o primeiro Carnaval da gestão Bolsonaro. O que se vê no vídeo é herança da esquerda. Daqui a quatro anos, veremos o legado do governo
Delegado Waldir, deputado federal (PSL-GO)
Por outro lado, parlamentares como Kim Kataguiri (DEM-SP) e Vinicius Poit (Novo-SP) criticaram a publicação. Líder do Movimento Brasil Livre (MBL), Kataguiri classificou como “abjeta” a atitude dos foliões, mas disse, no Twitter, que a postagem “é incompatível com a postura de um presidente, ainda mais de direita”.
Poit, por sua vez, também reprovou tanto o conteúdo da gravação quanto o compartilhamento por Bolsonaro, e manifestou preocupação com a falta de mensagens sobre a reforma da Previdência. “Existem outras coisas mais importantes para o presidente compartilhar. Eu estou diariamente publicando sobre a necessidade de uma Nova Previdência, mas Bolsonaro também precisa se manifestar sobre isso”, disse o deputado do Novo a VEJA. “Ele tem uma repercussão muito grande nas redes. Como vou explicar para os meus pais e para a minha avó o que é golden shower?”, criticou.
Existem outras coisas mais importantes para o presidente compartilhar. Eu estou diariamente publicando sobre a necessidade de uma Nova Previdência, mas Bolsonaro também precisa se manifestar sobre isso
Vinicius Poit, deputado federal (Novo-SP)
Do outro lado, parlamentares à esquerda saíram em defesa das festividades do Carnaval, compartilhando registros positivos sobre a festa. Líder da oposição na Câmara, Alessandro Molon (PSB-RJ) reproduziu registros de blocos que ajudaram crianças a reencontrar os pais, pedidos de casamento e acessibilidade àa deficientes físicos.
Mesmo tom foi o do governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), que compartilhou um vídeo de duas cadeirantes dançando na festa do estado. “Enquanto pessoas sem noção do cargo que ocupam se dedicam a difamar a maior festa popular do Brasil, faço questão de mostrar o que buscamos com o Carnaval do Maranhão. Beleza e preocupação com a justiça social”, disse, nas redes sociais.
Em outra manifestação em seu perfil oficial, o deputado José Guimarães (PT-CE) ressaltou a preocupação com a repercussão internacional da publicação do presidente Jair Bolsonaro. “Hoje o mundo deveria estar discutindo a apuração das vencedoras dos desfiles das escolas de samba do RJ, como sempre acontecia na Quarta-Feira de Cinzas. Hoje qual é o assunto mais comentado no mundo? Os tuítes pornográficos de Bolsonaro. Uma vergonha para nosso país!”, criticou.