Em meio às articulações em torno da disputa pela presidência da Câmara dos Deputados, que acontecerá em fevereiro do ano que vem, o presidente Lula adotou um comportamento que foi recebido por alguns parlamentares como um aceno ao deputado Marcos Pereira, presidente do Republicanos e candidato ao posto.
No início do mês, Lula convidou o parlamentar paulista a participar de cerimônia em homenagem ao Porto de Santos. Pereira, que no governo anterior era aliado de primeira hora de Jair Bolsonaro, aceitou e foi recebido com deferência: viajou a São Paulo no avião presidencial e, a caminho de Santos, foi alocado na cabine do helicóptero, onde viaja o presidente, tanto na ida quanto na volta da viagem – um privilégio para poucos.
Além de Lula e Pereira, estavam na cabine o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, da Casa Civil, Rui Costa, e o chefe de Relações Institucionais, Alexandre Padilha. Ministros como o da Secretaria-Geral, Márcio Macêdo, e o de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, ficaram na parte de trás da aeronave.
Conforme relatos, a conversa entre o presidente e o deputado foi descontraída, passando por futebol e investimentos do PAC, além da regulamentação da reforma tributária.
A configuração do evento também foi alterada de última hora. No palco, a primeira fileira de autoridades seria composta apenas do presidente, seus ministros e autoridades de São Paulo, como o governador Tarcísio de Freitas. Pereira foi convidado pelo cerimonial para fazer parte da bancada principal.
Deferências também nos discursos
Ao discursar, o cacique do Republicanos retribuiu as gentilezas a Lula. “Fiquei muito surpreso em saber que o senhor é o primeiro presidente da República a visitar o Porto de Santos. O presidente está de parabéns”, disse.
Já Lula, quando assumiu o microfone, aproveitou para “promover” o deputado, que atualmente ocupa o posto de vice-presidente da Câmara. “Queria cumprimentar o companheiro Marcos Pereira, que está no exercício da Câmara, porque o [Arthur] Lira não veio aqui”, ironizou o presidente.
Articulações para o comando da Câmara
Como mostra reportagem de VEJA desta edição, o presidente da Câmara, Arthur Lira, está empenhado em eleger seu sucessor. Alguns nomes já são trabalhados. O líder do União Brasil, Elmar Nascimento (BA), é apontado como o favorito de Lira, mas encontra resistência no Palácio do Planalto. Já Marcos Pereira é tratado como um nome mais palatável que o do baiano – mas encontra resistência de algumas lideranças do Centrão.
Outro candidato, o líder do PSD, Antonio Brito (BA), é tratado como o favorito no entorno de Lula, mas também lhe faltariam votos na Câmara. Ou seja: para qualquer lado, há toda uma avenida aberta.
Enquanto se aproxima de Lula, Marcos Pereira tenta conter danos do outro lado do espectro. Ele foi informado que o ex-presidente Jair Bolsonaro teria vetado o apoio do PL à sua eleição ao comando da Câmara. Entre os motivos, estariam justamente os acenos à esquerda, críticas feitas pelo deputado ao ex-presidente quando ele deixou o Brasil após ser derrotado e também uma suposta intriga religiosa: haveria uma resistência do pastor Silas Malafaia – Marcos Pereira é bispo licenciado da Igreja Universal.