O anúncio do oncologista Nelson Teich para chefiar o Ministério da Saúde é uma ironia do destino. Teich era cotado para assumir a pasta durante o período de transição para o governo de Jair Bolsonaro e só não foi nomeado porque o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), conseguiu o apoio das bancadas da saúde e evangélica para indicar Luiz Henrique Mandetta para o posto. Mandetta foi demitido nesta quinta-feira, 16, após sucessivas discordâncias com Bolsonaro no combate à pandemia do novo coronavírus.
O oncologista fez carreira no setor privado e não tem intimidade com a gestão do Sistema Único de Saúde, que deverá ser um de seus principais desafios frente ao crescimento de casos graves de Covid-19 no Brasil. Devido a essa falta de experiência na administração do SUS, parte da comunidade médica vê com ressalvas a indicação de Teich para chefiar o ministério. Por outro lado, sua indicação contou com o aval da Associação Médica Brasileira. “Ele é uma pessoa que tem os predicados científicos necessários para enfrentar a pandemia”, afirmou a VEJA Lincoln Lopes Ferreira, diretor da AMB.
Em um artigo recente, Teich defendeu a manutenção do isolamento social irrestrito, o que se opõe ao desejo do presidente de segregar apenas as pessoas que pertencem a grupos de riscos. Na publicação, o oncologista diz que a estratégia respaldada por Bolsonaro e os seus apoiadores “tem fragilidades e não representaria uma solução definitiva para o problema”. Em seu discurso de posse no Ministério da Saúde, no entanto, Teich disse que não faria nenhuma mudança brusca na questão do isolamento social, mas deixou claro que está totalmente alinhado a Bolsonaro na política de combate à Covid-19 e que vai trabalhar para o país voltar ao normal o mais rápido possível. Antes de apresentá-lo como o novo titular da pasta, o presidente defendeu a flexibilização da quarentena.
Teich é amigo do empreiteiro Meyer Nigri, dono da construtora Tecnisa. Nos últimos dias, Nigri vinha fazendo lobby junto a Bolsonaro para que o oncologista assumisse o ministério. O empreiteiro doou 9 000 reais para a candidatura de Bolsonaro e até hoje se mantém como um dos empresários mais próximos ao presidente.
Também foi Nigri que abriu as portas para Bolsonaro se aproximar do reservado núcleo da comunidade judaica de São Paulo na campanha de 2018. O secretário de Comunicação da Presidência, Fabio Wajngarten, é outro nome influente entre os judeus paulistas que endossou a indicação de Teich para o cargo.
Formado em medicina pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Teich atuou como consultor informal para a área de saúde na equipe de campanha de Bolsonaro. Fundador e presidente do grupo Clínicas Oncológicas Integradas (COI), ele assessorou o secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, Denizar Vianna, de setembro de 2019 a janeiro de 2020.
Mandetta foi demitido por Bolsonaro numa conversa de 30 minutos no Palácio do Planalto. Ele afirmou que o tom foi pacífico, sem sobressaltos, ao contrário do clima beligerante que pautou a relação entre eles nas últimas semanas. Na reunião, Mandetta frisou que não poderia entregar o que o presidente queria e desejou que tudo desse certo com o novo ministro.