Sem a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está preso na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, o Partido dos Trabalhadores (PT) confirmou na tarde deste sábado a candidatura do seu líder máximo à Presidência da República em convenção nacional realizada no centro de São Paulo. Esta é a sexta vez que o petista se candidata ao posto, mas é a primeira em que se lança em meio a tantas incertezas no meio político e jurídico.
A direção do partido corre contra o tempo para fechar uma aliança sólida com o campo da esquerda para, só assim, indicar o vice na chapa de Lula. Nenhum dirigente do partido quis dar uma coletiva à imprensa hoje, e saíram direto da convenção para uma reunião fechada com o objetivo de discutir o anúncio do vice. Advogados do petista, que não costumam participar de eventos partidários circulavam, hoje, em meio à militância. Internamente, eles cobram bom senso dos dirigentes, alertando que é arriscado não cumprir o prazo estipulado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de informar a chapa completa até segunda-feira 6.
Nesta sexta-feira, o nome da deputada Manuela D’Ávila, presidenciável do PCdoB, já era dado como certo para compor a chapa com Lula, quando o próprio, da cadeia, mandou o partido esperar. Na última semana, após fechar uma aliança com o PSB e isolar Ciro Gomes (PDT), o PT reabriu as conversas com o PDT e tenta convencê-lo a desistir da candidatura e ser vice de Lula. “Se ele tivesse conseguido atingir 15% nas pesquisas, o PT cedia. Mas não conseguiu”, disse um deputado petista que acompanha as negociações de perto. Na avaliação de Lula e do PT, a união da esquerda é a melhor forma de bater de frente com o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), que fez aliança com o centrão e contra quem apostam que disputarão o segundo turno.
O coordenador do programa da campanha, o ex-prefeito Fernando Haddad, que é cotado como plano B, disse em seu discurso que “não tem dúvida” de que o cenário “está configurado” para repetir o embate entre os dois partidos.
Apesar de cravar no discurso oficial que não há plano B, os dirigentes do partido sempre se referem em conversas informais ao “candidato do Lula”, como se já soubessem que ele terá poucas chances jurídicas de concorrer. Mesmo assim, a estratégia é tratá-lo como candidato até o minuto final – no caso, 16 de setembro -, pois acreditam que, desse modo, haverá uma transferência maior de votos de Lula para o seu escolhido.
Segundo a letra fria da legislação, Lula não poderia concorrer ao cargo porque foi condenado por corrupção e lavagem de dinheiro em segunda instância no processo do tríplex no Guarujá (SP), o que o enquadra na Lei da Ficha Limpa. O partido, no entanto, insiste na tese de que Lula foi vítima de um “golpe político e judiciário” armado para impedi-lo de voltar ao Palácio do Planalto. Os discursos na convenção de hoje foram basicamente pautados por essa temática.
“A Justiça não faz outra coisa a não ser perseguir Lula”, bradou a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, enquanto os delegados do partido levantavam as mãos aclamando o ex-presidente.
Mesmo com Lula ausente, o PT fazia questão de a todo tempo frisar que ele estava na convenção em espírito, seguindo a retórica de transformá-lo num mito. “Nós somos a voz e as pernas de Lula”, bradou a presidente da UNE, Marianna Dias, antes de atacar imprensa por noticiar que a esquerda está dividida. Apesar das críticas, a própria direção PT foi alvo de protestos na convenção pela decisão de rifar a candidatura da vereadora Marília Arraes (PT) ao governo de Pernambuco em prol de uma aliança com o PSB. Militantes gritaram por diversas vezes o nome de “Marília governadora”. A ex-presidente Dilma Rousseff chegou a lhes pedir calma e acrescentou: “Nós acabamos com a monarquia”.
No PT, o verdadeiro rei é Lula que, mesmo preso, sempre dá a palavra final sobre os rumos do partido. O evento foi encerrado com a leitura de uma carta enviada por ele e lida pelo ator Sergio Mamberti. “Já derrubaram uma presidente eleita. Agora querem vetar o direito do povo escolher livremente o próximo presidente. Querem inventar uma democracia sem povo”, disse ele, no texto, pedindo “empenho” da militância para vencer as eleições deste ano.
Num dado momento, um organizador da convenção pediu à plateia que virasse de costas para o palco e mostrassem as máscaras do rosto do ex-presidente Lula para os fotógrafos. Todos acataram às ordens, entoando o grito de “Eu sou Lula”.