Na semana em que o presidente Jair Bolsonaro mais chegou perto de demitir o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, mas acabou desistindo, o presidente da Frente Nacional de Prefeitos, Jonas Donizette (PSB), avalia que a saída de Mandetta do cargo em meio à pandemia do coronavírus seria a melhor solução caso o presidente insista em confrontar as medidas apoiadas pelo ministro no combate à Covid-19.
Embora entenda que a possível demissão representaria “uma perda muito grande” e faria o governo regredir à estaca zero, Donizette, prefeito de Campinas, observa que a escolha de um ministro alinhado faria o presidente ao menos assumir a responsabilidade pelos desdobramentos de seu discurso contrário ao isolamento social mais amplo colocado em prática por estados e municípios.
“Acho importantíssimo o Mandetta ficar, ele sair seria uma perda muito grande, seria praticamente voltar à estaca zero. Mas acho inócuo ele ficar com a situação que temos hoje. Defendo o ministro, mas desde que ele tenha apoio e autonomia para fazer o trabalho. Do jeito que está, é muito confortável o presidente fazer a crítica, passar pelo bonzinho que queria que abrisse o comércio para as pessoas trabalharem. O monopólio de se preocupar com a economia não é só dele”, diz.
Jonas Donizette relata ter passado por um “dia de caos” na segunda-feira, 6, quando a saída de Mandetta do Ministério da Saúde foi cogitada com mais força por Bolsonaro. O presidente acabou demovido de demitir o ministro, ao menos por enquanto, após conversas com os ministros da ala militar que têm assento no Palácio do Planalto, os generais Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, e Walter Braga Netto, da Casa Civil.
Na manhã desta quarta-feira, 8, Bolsonaro e Mandetta se reuniram no Planalto e a temperatura da crise entre os dois diminuiu ao longo do dia. No entanto, embora o ministro tenha acenado ao chefe, declarando à imprensa que é Bolsonaro quem “comanda o time”, o presidente sequer citou Mandetta no pronunciamento que fez em cadeia nacional de TV, à noite, quando voltou a defender o uso da hidroxicloroquina em pacientes com Covid-19 e a criticar veladamente a quarentena nos estados.
Apesar da postura do presidente, o ministro da Saúde mantém a decisão de só deixar o governo se Bolsonaro demiti-lo. Segundo relatos obtidos por VEJA, o ministro disse em uma reunião no Planalto na segunda-feira que só deixa o governo “demitido ou morto”. Em outra conversa tensa com o auxiliar, o presidente afirmou a Luiz Mandetta: “Só toma cuidado com uma coisa. Você vai salvar o pessoal da gripe, mas vai matar o pessoal de fome. Olhe para o que acontece na Venezuela”.
“Você fica naquele impasse, o administrador não se sente seguro para tomar decisões. A pandemia no Brasil tem duas características: as que têm no resto do mundo, com mortes e paralisação de economia, e mais um componente, que é a falta de coesão entre o presidente, querendo fazer um discurso para agradar uma camada da população, e as demais autoridades”, afirma Donizette.
Ainda de acordo com o presidente da frente de prefeitos, administradores de cidades médias não têm recebido as informações necessárias pelo governo. “Os prefeitos têm ficado vendidos, sem informações a respeito de necessidade e custeio de leitos de UTI, por exemplo. O governo começou a delinear isso, apontando os estados com mais dificuldades e casos [Amazonas, Rio de Janeiro, São Paulo e Ceará], mas isso é muito mais pela filosofia do presidente de querer diferenciar o isolamento do que propriamente estratégia de tratamento dos pacientes”, diz.