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Santana e Mônica reafirmam a Moro caixa 2 da Odebrecht a Lula

Delatores, marqueteiros prestaram depoimento como testemunhas em processo que trata de sítio supostamente reformado por empreiteiras em benefício do petista

Por João Pedroso de Campos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 5 fev 2018, 19h44 - Publicado em 5 fev 2018, 18h38
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  • O casal de marqueteiros João Santana e Mônica Moura prestou depoimento nesta segunda-feira ao juiz federal Sergio Moro em um processo da Operação Lava Jato que tem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva entre os réus. Santana e Mônica, ambos delatores da Lava Jato, falaram a Moro na ação sobre o sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP), que era frequentado por Lula e foi reformado por empreiteiras investigadas no petrolão ao custo de 1 milhão de reais. Ao magistrado, os marqueteiros reafirmaram o conteúdo de suas delações a respeito de pagamentos de caixa dois à campanha de Lula, em 2006, pela Odebrecht, uma das empresas que teriam financiado as benfeitorias na propriedade no interior paulista.

    Segundo Mônica, os serviços do casal na campanha de reeleição de Lula custaram 18 milhões de reais, dos quais 10 milhões foram pagos em caixa dois e os 8 milhões restantes, oficialmente. A prestação de contas à Justiça Eleitoral em 2006 mostra, no entanto, que a campanha petista declarou 13,75 milhões de reais em pagamentos à Pólis Propaganda e Marketing, empresa do casal de marqueteiros.

    “Nosso primeiro contato com a Odebrecht foi na campanha de reeleição do presidente Lula, em 2006. Nessa eleição, já recebemos uma parte oficial e uma parte caixa dois. A Odebrecht pagou essa parte de caixa dois, uma parte no Brasil e uma parte em contas no exterior”, afirmou Mônica Moura. Diante de Sergio Moro, ela ainda declarou que “não existe campanha política no Brasil sem dinheiro não contabilizado. Não se faz. Se alguém disser que faz, não é verdade”.

    “A Odebrecht efetuou várias vezes [pagamentos de caixa dois], durante alguns anos, sempre encaminhado pelo Partido dos Trabalhadores e seus candidatos. Recebíamos através de uma conta na Suíça, a Shellbill, e outra parte também, em espécie, para o custeio do dia a dia de campanha. Eram esses dois formatos”, disse João Santana, responsável pelo marketing político das campanhas presidenciais de Lula, em 2006, e Dilma Rousseff, em 2010 e 2014.

    Especificamente sobre a campanha que reconduziu o ex-presidente ao Palácio do Planalto, no ano seguinte ao escândalo do mensalão, o casal citou ter se preocupado com o recebimento de valores não contabilizados, mas que aceitou o caixa dois depois de o ex-ministro Antonio Palocci alegar que não seria possível bancar integralmente o trabalho dos publicitários de modo oficial.

    Sem citar valores, João Santana relatou que a Odebrecht assumiu as dívidas da campanha de Lula com os marqueteiros e pagou a eles “valores substanciais, algo em torno de 20% 30% do preço oficial da campanha”.

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    Indagado pelo Ministério Público Federal (MPF) sobre com quem mantinha contato dentro do PT durante a campanha, Santana respondeu que se relacionava com Lula, Palocci e a cúpula do partido. “Antonio Palocci também sempre era um interlocutor estratégico e cumpria um papel paralelo de organização financeira com Mônica, mas não diretamente comigo”, completou.

    João Santana ressaltou que não tinha o costume de tratar do financiamento da campanha com o ex-presidente, mas que procurou o petista algumas vezes para cobrar dívidas. “O que eu me referi com ele, tempos depois, foi cobrando atrasos de pagamentos que estavam ocorrendo, quando Palocci falhava. Era um degrau, entrei duas ou três vezes e falei com o presidente. ‘Tem um atraso grande e nós estamos entrando em um quadro de desequilíbrio econômico e financeiro’. Ele sempre se mostrava surpreso: ‘não, vamos resolver’. Isso no intervalo do primeiro para o segundo turno da campanha dele”, declarou o publicitário.

    O marqueteiro entende que, ao ser cobrado pelos atrasos, o ex-presidente sabia que se tratava de valores não contabilizados no caixa oficial de campanha. “Primeiro, não conheci nenhum candidato que não soubesse detalhes da administração financeira de sua campanha. Segundo, os pagamentos oficiais sempre tiveram margem pequena de atraso, sempre tinha atraso, mas não tanto. Então, quando se referia a atraso, inclusive os que ficavam para depois da campanha, estava implícito que era caixa dois”, disse a Moro.

    Outra cobrança a Lula relatada pelo publicitário foi referente à campanha do ex-presidente de El Salvador, Maurício Funes, em 2009. De acordo com João Santana, o petista o orientou a procurar o empresário Emílio Odebrecht, que encaminharia os pagamentos. Odebrecht teria tratado com Antonio Palocci sobre a dívida, que foi paga.

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    Por meio de nota, a defesa de Lula afirma que “os depoimentos coletados hoje deixaram claro que a também essa terceira acusação apresentada pelo Ministério Público Federal contra o ex-Presidente Lula perante a Justiça de Curitiba é manifestamente improcedente. A denúncia faz referência a 9 contratos da Petrobras e a reformas realizadas em um sítio em Atibaia. Nenhuma das testemunhas hoje ouvidas confirmou a acusação”.

    Processo investiga sítio em SP

    João Santana, Mônica Moura e o ex-diretor da área Internacional da Petrobras Jorge Zelada foram as primeiras testemunhas ouvidas no processo que trata do sítio de Atibaia, supostamente reformado pelas empreiteiras Odebrecht, OAS e Schahin em benefício de Lula. Os três foram arrolados como testemunhas de acusação pelo Ministério Público Federal.

    Em maio de 2017, Lula foi denunciado pela força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso envolvendo obras na propriedade. De acordo com os procuradores, o ex-presidente foi beneficiado ilicitamente com cerca de 1 milhão de reais nas reformas, que incluíram a construção de anexos e benfeitorias no sítio, como a instalação de uma cozinha de alto padrão. Odebrecht e OAS teriam arcado com 870.000 reais das obras e a Schahin, por meio do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do petista, teria pago 150.500 reais.

    Escute os depoimentos de João Santana e Mônica Moura:

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