Presidente do Cidadania, partido que para se manter vivo se comprometeu a permanecer quatro anos aliado ao PSDB, o ex-deputado Roberto Freire (PE) fez um cálculo simples para decidir quem apoiaria para a Presidência da República no segundo turno depois que sua candidata, Simone Tebet (MDB), terminou a corrida presidencial em terceiro lugar, com apenas 4,16% dos votos. Freire declarou apoio ao ex-presidente Lula. O motivo, ressalta, é fácil de explicar. O petista teria compromisso com a democracia. Bolsonaro, não. Ex-comunista, Freire ressalta que esse apoio ao candidato do PT não significa que bandeiras históricas como o combate à corrupção foram deixadas de lado. Em entrevista a VEJA, ele afirma que Lula é corrupto. Nesse quesito, porém, o ex-presidente empataria com Jair Bolsonaro. A diferença entre os dois se daria em outro campo:
Qual o Brasil de Lula e o Brasil de Bolsonaro? No segundo turno definimos votar em Lula porque queremos continuar com o Estado Democrático de Direito e sem risco nenhum às nossas liberdades e aos direitos humanos. Mesmo não tendo Lula como exemplo de democrata, em nenhum momento fomos assaltados por ideias de que correríamos riscos de um atentado à democracia. Bolsonaro é diferente. Ele é um órfão da ditadura. Não tem uma biografia, mas uma folha corrida do ponto de vista democrático.
Por que a democracia estaria ameaçada sob um novo governo de Bolsonaro? A democracia está ameaçada pelo próprio poder, que está se transformando em autoritarismo. Talvez um exemplo muito próximo ao que estamos passando seja o governo do primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, um bastião de valores morais obscurantistas. O Bolsonaro é exatamente isso.
O senhor não considera a corrupção também como uma ameaça à democracia? Claro que sim, mas o que está colocado no Brasil não é que há um impoluto disputando contra Lula, mas um corrupto também. Bolsonaro é corrupto. Basta citar as rachadinhas e as investigações em andamento sobre as compras imobiliárias do clã Bolsonaro. Não estou fazendo aqui uma comparação. A gente precisa mostrar que o Código Penal não faz diferença de que um é criminoso e o outro não é.
Resumindo, o senhor está dizendo que tanto Lula como Bolsonaro corruptos? Sim. Não podemos escamotear a verdade. Mas, acima de tudo, temos de defender a democracia. Esse foi o motivo pelo qual mesmo não tenho o Lula como exemplo de democrata, faço essa escolha. Mesmo durante os governos petistas, em que nós fizemos oposição, em nenhum momento fomos assaltados por ideias de que correríamos riscos de um atentado à democracia.
A estratégia de tratar a eleição entre esquerda e direita está errada? Infelizmente. Falta o PT entender que é necessário haver uma frente democrática, e não uma frente de esquerda para enfrentar Bolsonaro. Com esse pensamento, nós já o teríamos derrotado. Não se derrota fascista com uma frente de esquerda. Não acho que a maioria dos eleitores de Bolsonaro seja fascista, mas vivemos um perigoso momento que mistura religião e política, de intolerância.
O que deve ser feito com integrantes da federação PSDB-Cidadania que declararam apoio a Bolsonaro, como o governador de São Paulo Rodrigo Garcia? Eu pedi que sugerissem que ele se retirasse do partido, como faço o mesmo convite aos bolsonaristas que estão no Cidadania. Não queremos flerte com fascistas. Quem estiver pensando isso está no lugar errado.