O secretário especial de Produtividade, Emprego e Competitividade do Ministério da Economia, Carlos da Costa, é acusado por um de seus subordinados de fazer “pedidos não republicanos”. A denúncia é feita por Luiz Augusto de Souza Ferreira, presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), em entrevista a VEJA. Os dois têm travado uma guerra particular, repleta de dossiês e ameaças veladas. A intriga vinha sendo abafada para evitar qualquer prejuízo ao andamento da reforma da previdência no Congresso. Luiz Augusto, conhecido como Guto, foi indicado ao comando da ABDI pelo pastor Marcos Pereira (PRB-SP), vice-presidente da Câmara dos Deputados.
Nos últimos dias, porém, a situação ficou incontornável. O secretário Carlos da Costa resolveu demitir o seu subordinado, porque ele não estaria entregando os resultados planejados. Mas o presidente da ABDI não aceitou a decisão. Disse que só sairá do governo com uma ordem expressa do presidente Jair Bolsonaro — e que está sendo perseguido por seu chefe. “Não tenho a menor dúvida que o motivo da discussão da minha saída é o ódio do secretário Carlos da Costa porque não atendi aos pedidos não republicanos dele”, diz Guto. “Sigo a determinação do presidente Bolsonaro de não atender vagabundo na administração pública”, afirma ele.
O senhor foi demitido da presidência da ABDI?
Não fui demitido. Pelo menos não que eu saiba. A demissão vem do presidente da República. O secretário Carlos da Costa não tem poder para me demitir. A presidência e a diretoria da ABDI são nomeações do presidente da República. Existe uma discordância brutal entre o que a gente pensa e apresenta de resultado e o que pensa o secretário Carlos da Costa. A gente tentou minimizar ao máximo isso. Mas é muito provável que eu tenha, em algum momento, de explicar o porquê da minha saída com os resultados que a ABDI tem apresentado.
A questão se resume a uma discordância de resultados?
Não. Porque do resultado não tem como discordar, né? Não concordei com alguns pedidos que me foram feitos pelo secretário Carlos da Costa. Por isso, ele passou a me perseguir.
Que tipo de pedidos?
É coisa que tem potencial de estrago bem grande.
Quais pedidos? Poderia citar algum deles?
O secretário Carlos da Costa me fez pedidos não republicanos e recusei. Ponto. Não posso abrir agora. Liga para ele e pergunta. Fala assim: “Eu gostaria de saber se você fez algum pedido não republicano para o presidente da Abdi”. Por mais que eu tenha uma vontade enorme de falar, não posso voltar atrás na palavra que dei neste momento.
O seu comportamento teria pesado no desgaste da relação com o secretário Carlos da Costa e na discussão da sua demissão?
Pesado? Está de brincadeira, né? Se for assim, o Carlos da Costa não poderia ser secretário porque ele tem duas empresas com condenação extrajudicial. Você sabia que ele não pagou a bolsa de doutorado dele? Pergunta se ele terminou o doutorado que colocou no currículo. Pergunta quem paga as passagens aéreas dele, se é ele ou a secretária do ministério. Pergunta quem está pagando as viagens que ele faz com o filho dele nos eventos do LIDE. Aí você vai entender o porquê que eu posso estar saindo ou não. Talvez eu não tenha concordado com algumas coisas. Não só discordei dos pedidos não republicanos como neguei. E fui pressionado por ter recusado.
O senhor está fazendo uma acusação grave…
É mais séria do que você pode imaginar. É muito mais séria. Essa é uma guerra que está sendo causada pelo secretário. Só estamos tentando fazer o nosso trabalho. Agora, em determinados momentos, sim, recebi pedidos que não foram republicanos e falo textualmente que recusei a atendê-los porque sigo a determinação do presidente Bolsonaro de não atender vagabundo na administração pública. Se quiser publicar isso, pode publicar.
Isso estaria contribuindo com a sua saída da ABDI?
Não tenho a menor dúvida que o motivo da discussão da minha saída é o ódio do secretário Carlos da Costa porque não atendi aos pedidos não republicanos dele e os quais, inclusive, tenho provas para apresentar para o presidente.
Que tipo de provas?
Não posso falar por enquanto.