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Ramagem conta com força de Bolsonaro para tentar chegar ao segundo turno

Os últimos números permitem alguma esperança de disputa que soava impossível. E dá-lhe tentar de tudo para fazer valer o novo e intrincado cenário

Por Ludmilla de Lima, Ricardo Ferraz Atualizado em 30 set 2024, 07h29 - Publicado em 29 set 2024, 08h00
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  • Desde que as costuras de alianças começaram a ser tecidas para a eleição municipal que se avizinha, Jair Bolsonaro mostrou-se irredutível em apenas uma capital — o Rio de Janeiro. Confiante de sua força na cidade, que é seu berço político e onde o bolsonarismo germinou, o ex-presidente bateu o pé no nome do deputado federal Alexandre Ramagem como candidato à prefeitura pelo PL, mesmo que muitos figurões do partido lhe torcessem o nariz. Pesaram para a escolha a proximidade de Ramagem com o clã e o fato de ter carreira como delegado federal, o que o credenciaria a empunhar a bandeira da segurança pública, a maior preocupação do carioca. Mas aí a campanha começou, e o nome do ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) passou a aparecer nas pesquisas, semana após semana, bem atrás de Eduardo Paes (PSD), o atual dono da cadeira, que tenta o quarto mandato impulsionado por uma alta popularidade. Na reta final, porém, os últimos números permitem alguma esperança de um segundo turno que soava impossível. E dá-lhe tentar de tudo para fazer valer o novo e intrincado cenário.

    Os articuladores da campanha de Ramagem depositam as fichas na ida de Bolsonaro ao Rio, na próxima terça-feira, 1º de outubro, com o plano de cumprir uma agenda de aparições ao lado do afilhado político ao longo de toda a semana. Temendo-se que motociatas, tão caras ao ex-ocupante do Palácio do Planalto, possam embolar o trânsito, causando desnecessária irritação às vésperas do pleito, a decisão foi investir no corpo a corpo por bairros diversos. “Muita gente está se dando conta da eleição apenas agora”, disse Ramagem a VEJA. “A presença do ex-presidente nos torna muito mais conhecidos.” Aferições recentes, contudo, indicam ainda diferença expressiva entre ele e Paes — 57% para o alcaide ante 18% para o oponente, segundo levantamento de 18 de setembro feito pela Quaest. Abriu-se uma possibilidade de subida da íngreme ladeira com a expectativa de as pesquisas não terem feito o retrato adequado do momento. Uma sondagem da AtlasIntel com perguntas respondidas de modo on-­line, e que estaria captando o chamado “voto envergonhado”, indica margem menos ampla: 48% para Paes e 32% para Ramagem. “Nas consultas pela internet temos conseguido medir melhor o comportamento da direita radical, já que esse tipo de eleitor se sente mais confortável em exprimir sua opinião a distância”, explica Yuri Sanches, diretor de análise política do instituto. A ver.

    Um dos nichos em que se vislumbra espaço para ganhar terreno é entre os próprios bolsonaristas, hoje rachados entre Paes e Ramagem, meio a meio. Dentre eles, especial atenção vem sendo dedicada à fatia que se declara evangélica, na qual o postulante do PL, agora em frenética agenda de templo em templo, avança (pulou de 18% para 25% em uma semana, como mostra a Quaest), e o prefeito recua (de 54% para 45%). A ainda sólida vantagem de Paes se deve a uma intensa movimentação que não apenas inclui a constante romaria pelas igrejas de altas lideranças locais, como Cláudio Duarte (à frente da Marcha para Jesus no Rio), Abner Ferreira (do Ministério Madureira da Assembleia de Deus) e Josué Valandro (da Batista Atitude), todos clicados ao seu lado, mas envolve também generosos aportes de recursos municipais para projetos e convênios variados — algo em torno de 8,8 milhões de reais na atual gestão. Até o pastor Silas Malafaia, chegadíssimo a Bolsonaro, não aderiu a Ramagem, declarando-se neutro, atribulado que está com as eleições legislativas.

    À FRENTE - O prefeito Eduardo Paes em ação: costuras decisivas com evangélicos
    À FRENTE - O prefeito Eduardo Paes em ação: costuras decisivas com evangélicos (Paulo Carneiro/Ato Press/Folhapress/.)

    O que muito contribuiu para a aproximação do segmento religioso com o alcaide foram iniciativas encabeçadas pelo deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ), que, também ele, queria ser prefeito, até ter a aspiração engolida quando seu partido resolveu integrar a coligação em torno de Ramagem. Por 45 dias, esperou um gesto de agradecimento, que nunca veio, e então debandou da nau bolsonarista. “O bolsonarismo vive uma autofagia ao destruir e descredibilizar os próprios soldados. Me tornei um ex-­bolsonarista”, desabafa. Paes retribuiu o gesto abrindo a Otoni as portas da Fundação Jardim Zoológico, onde o novo aliado alojou pastores de sua confiança. Entre as baixas significativas no campo do PL, causou saia justa a opção de Romário pelo prefeito, que já havia acomodado um quadro da confiança do senador na Secretaria de Pessoa com Deficiência, na qual também está lotada sua ex-mulher, Danielle Costa.

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    O círculo de Ramagem, que se põe a fazer contas, sabe que não basta ele angariar mais votos para persistir no páreo. Um segundo turno no Rio, dizem, depende de um cenário em que os demais candidatos se descolem do pífio patamar de hoje — somados, Tarcísio Motta (PSOL), Marcelo Queiroz (PP) e Rodrigo Amorim (União Brasil) vêm registrando em pesquisas cerca de 10% dos votos válidos, o que não é suficiente para evitar que Paes crave mais de 50% e encerre a fatura já em 6 de outubro. Para alcançar o feito, aliás, a campanha do prefeito tem repisado a ideia do voto útil, numa lógica em que os eleitores de esquerda devem aderir a ele agora, para barrar “o perigo da direita”.

    Há um reconhecimento nas hostes de Ramagem de que não será nada fácil frear o alcaide. “A população tem uma identificação com Eduardo, que é maior que sua gestão”, avalia Bruno Bonetti, presidente municipal do PL. Mas o Rio, como se sabe, é pródigo em surpresas. Em 2018, o desconhecido juiz Wilson Witzel saltou de 1% para 39% em três meses, venceu o próprio Paes e virou governador com um decisivo empurrão de Bolsonaro, ainda que tenha permanecido pouco mais de um ano à frente do Palácio Guanabara. Nos próximos dias, o poder do padrinho de Ramagem será, de novo, posto à prova.

    Publicado em VEJA de 27 de setembro de 2024, edição nº 2912

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