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Quem são os nomes da alta corte petista, de total confiança de Lula

Mesmo sem o protagonismo ou a ascendência que já tiveram outros companheiros do passado, é bom falar com eles para ser ouvido pelo presidente eleito

Por Marcela Mattos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 11h19 - Publicado em 12 nov 2022, 08h00
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  • A cinquenta dias de tomar posse no Palácio do Planalto, Lula está cumprindo a promessa de não governar só para o PT, montar uma administração plural e semear a harmonia entre os poderes. Depois de delegar ao vice Geraldo Alckmin (PSB) a coordenação da equipe de transição, o presidente eleito escalou para esse grupo economistas liberais, antigos colaboradores de gestões tucanas e representantes de mais de uma dezena de partidos, inclusive do MDB e do PSD, que aderiram agora à aliança governista. Na quarta-feira 9, em sua primeira viagem a Brasília após a eleição, Lula conversou com os chefes do Legislativo e do Judiciário, pregou a favor da união nacional e acenou ao Congresso, onde terá minoria, dizendo que tratará com respeito, e sem distinção, todos os deputados e senadores. Foi um gesto necessário, já que ele precisará dos parlamentares para aprovar a proposta que pretende tirar do teto de gastos uma série de despesas, como a manutenção do valor do Auxílio Brasil em 600 reais e a correção do salário mínimo acima da inflação. Diante do público externo, o petista aparenta moderação e compromisso com a montagem de uma frente ampla para gerir o país. Já dentro do PT a situação é diferente.

    Lula quase sempre foi maior politicamente do que o seu partido e, em 2022, essa condição se acentuou. Nenhum correligionário lhe faz sombra (num passado distante, José Dirceu lhe fez). Na prática, o presidente eleito manda, e os companheiros obedecem, com pouco espaço para contestações. Nessa cadeia de comando, destacam-­se poucos intermediários que gozam da estrita confiança de Lula, falam por ele e funcionam como olhos e ouvidos do chefe nas negociações travadas interna e externamente. Um desses quadros influentes é a deputada federal Gleisi Hoffmann, presidente do PT. À frente da costura de novas alianças em torno do futuro governo, Gleisi está longe de ser unanimidade entre os petistas, mas ganhou a confiança de Lula quando ele estava preso em Curitiba. Com a facilidade de morar na cidade, a deputada era presença constante na sede da Polícia Federal e se tornou uma espécie de porta-voz do encarcerado, cumprindo fielmente a tarefa de propagar a tese de que Lula fora vítima de uma perseguição política promovida por um juiz parcial — tese que seria mais tarde reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

    DIÁLOGO - Lula e Pacheco: aproximação com o Congresso para viabilizar o pagamento de 600 reais do Auxílio Brasil -
    DIÁLOGO - Lula e Pacheco: aproximação com o Congresso para viabilizar o pagamento de 600 reais do Auxílio Brasil – (Pedro Gontijo/Senado Federal/.)

    O roteiro segue o mesmo: Lula pensa e desenvolve o plano, enquanto Gleisi põe a mão na massa. As costuras dela já amarraram ao menos treze legendas no entorno do presidente eleito, que faz questão de elogiar a deputada, que era considerada ruim de articulação quando desempenhava o cargo de ministra da Casa Civil na gestão de Dilma Rousseff. “Vocês não diziam que ela era limitada? Estão aí, mais de dez partidos”, afirma, aos risos, o presidente eleito. Outra estrela prestigiada por Lula é Fernando Haddad, que perdeu a corrida para o governo de São Paulo. Apesar da derrota, ele teve o melhor desempenho de um petista em disputas no estado e, na avaliação do presidente eleito, foi decisivo para impedir que Jair Bolsonaro abrisse uma vantagem ainda mais larga no maior colégio eleitoral do país, o que poderia resultar na reeleição do capitão. Logo após a divulgação do resultado das urnas, Lula fez questão de prestigiar Haddad, que aparece como cotado para assumir ministérios diversos, como o da Fazenda e o da Casa Civil. Na transição, o presidente entregou ao pupilo, visto como um de seus eventuais sucessores, a missão de definir os integrantes da equipe que vai estudar as políticas para a educação, área da qual Haddad foi ministro.

    RECOMPENSA - Simone Tebet: sinais de que a senadora poderá ocupar um ministério da área social do futuro governo -
    RECOMPENSA - Simone Tebet: sinais de que a senadora poderá ocupar um ministério da área social do futuro governo – (Nelson Almeida/AFP)

    A vitória nas urnas levou o presidente eleito até a uma reconciliação. Desde o impeachment de Dilma Rousseff, o ex-ministro Aloizio Mercadante era tratado como uma persona non grata dentro do PT. Ele costumava ser responsabilizado pela derrubada da presidente e até pela prisão de petistas, porque defendeu a tese de que a operação atingiria apenas o Congresso, que sairia enfraquecido, e assim fortaleceria indiretamente Dilma, que, portanto, não deveria fazer nenhum movimento para tentar brecar a apuração do escândalo. Após esse erro de avaliação, Mercadante ficou isolado por um período e depois assumiu o comando da Fundação Perseu Abramo, braço institucional da legenda. Neste ano, ele voltou à cena primeiro como coordenador do programa de governo de Lula e agora como coordenador técnico da transição. Mesmo antes da Lava-Jato, Lula nunca nutriu muita simpatia pessoal por Mercadante, a quem sempre reconheceu, no entanto, preparo para lidar com questões técnicas ou programáticas. Seu nome é cotado para postos diversos, como o comando do Itamaraty.

    COTA ALIADA - França: o ex-governador é citado como opção para o Ministério da Ciência e Tecnologia -
    COTA ALIADA - França: o ex-governador é citado como opção para o Ministério da Ciência e Tecnologia – (Ettore Chiereguini/AGIF/AFP)

    Completa o escrete da alta corte de Lula o deputado federal Alexandre Padilha. Reeleito em outubro, ele foi indicado para integrar a equipe de transição na área da Saúde, da qual já foi ministro, e tem o nome ventilado para uma pasta mais política ou econômica por manter boa interlocução com o mercado e o Congresso. Muito habilidoso, até para a Fazenda está cotado, mas, disciplinado, não se manifestou sobre qual posição quer desempenhar na Esplanada. Na verdade, ainda há muitas dúvidas sobre a escalação do futuro ministério. A senadora Simone Tebet (MDB-MS), por exemplo, cuidará na transição da área social, o que foi interpretado como um indício de que pode ser indicada para o Ministério da Cidadania, responsável pelo Auxílio Brasil, ou, na nomenclatura petista, Bolsa Família. Outra hipótese para Tebet é a Saúde. O senador eleito Flávio Dino e o ex-governador Márcio França, ambos do aliado PSB, aparecem como possibilidades, respectivamente, para os ministérios da Justiça e da Ciência e Tecnologia. Há pessoas escaladas para a equipe de transição que não devem assumir um cargo de ministro, mas terão papel de destaque, como o deputado eleito Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, uma das principais apostas do governo eleito para os embates com a oposição no Congresso.

    BOCA NO TROMBONE - Boulos: o deputado eleito deve ser uma das estrelas da tropa de choque governista na Câmara -
    BOCA NO TROMBONE - Boulos: o deputado eleito deve ser uma das estrelas da tropa de choque governista na Câmara – (Andre Penner/AP/Image Plus)

    Em meio a tantas especulações, a prioridade de Lula é outra: ampliar o arco de alianças partidárias, aumentar a base parlamentar e construir pontes com representantes de outros poderes. Foi esse o motivo da incursão dele por Brasília. Lula foi pessoalmente às casas do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para tratar da proposta que viabilizará o pagamento dos 600 reais do Auxílio Brasil. Pacheco sempre foi visto como um aliado do presidente eleito, ao contrário de Lira, que apoiou a reeleição de Bolsonaro. Mas Lula parece disposto a compor com o deputado, e vice-versa. O caminho para o acerto pode ser facilitado por duas coisas: apoio, mesmo que velado, à reeleição de Lira para o comando da Casa e a manutenção, em novos termos e regras, do orçamento secreto. No giro pela capital federal, Lula também participou de reuniões com ministros do STF e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

    BEM RELACIONADO - Dino: o senador é alternativa para comandar a Justiça -
    BEM RELACIONADO - Dino: o senador é alternativa para comandar a Justiça – (Mateus Bonomi/AGIF/AFP)

    O recado principal é o de que, a despeito do clima conflagrado incentivado pelo governo Bolsonaro e das críticas que o PT já fez ao Judiciário, Lula quer manter uma relação pacífica de agora em diante. “Vim dizer às instituições: o Brasil vai voltar à normalidade”, afirmou após os encontros. “Vocês poderão ter até surpresa de como as coisas vão acontecer sem tanta briga.” A declaração está em linha com o prometido na campanha e sinaliza para um caminho correto. Quanto mais ampla for a nova administração e menos conflagrada a situação do Brasil, maiores as chances de o presidente eleito e seus escudeiros de confiança enfrentarem os problemas do país. O custeio do valor do Bolsa Família é só o primeiro deles.

    Publicado em VEJA de 16 de novembro de 2022, edição nº 2815

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