Há pelo menos seis meses qualquer um que queira se aproximar de Jair Bolsonaro tem, necessariamente, de passar pelo controle do advogado Gustavo Bebianno Rocha. Botafoguense fanático e faixa-preta em jiu-jitsu, ele é o responsável por administrar a agenda, os encontros e – mais importante – os movimentos políticos do presidenciável. Tamanha proximidade tem causado ruído no entorno do candidato: seus três filhos políticos e os assessores de longa data foram rebaixados na hierarquia do capitão para que Bebianno ascendesse.
Os casos mais recentes envolvem Eduardo Bolsonaro, deputado federal como o pai: há cerca de um mês, o parlamentar fez uma postagem nas redes sociais desferindo críticas a um correligionário próximo de Bebianno. O advogado queixou-se a Bolsonaro, que obrigou o filho a apagar a publicação. Eduardo também teve de cancelar um evento que organizara para reunir políticos conservadores da América Latina — espécie de antítese do Foro de São Paulo — porque Bebianno convenceu seu pai de que comparecer ao compromisso poderia configurar propaganda antecipada de campanha. A ida de Bolsonaro ao PSL também foi obra do advogado, e ocorreu à revelia dos filhos Flávio e Carlos, que preferiam o Patriota. Adilson Barroso, presidente do Patriota, chegou a oferecer seu cargo a Flávio, deputado estadual, além de deixar à disposição do clã quase todos os diretórios do partido. Só que, em paralelo, Bebianno, juntamente com o deputado federal Fernando Francischini, costurava um acordo para que o PSL fosse a legenda escolhida. Venceu a queda de braço e, como recompensa, tornou-se ele próprio presidente em exercício do partido.
À medida que Bebianno ganha a confiança de Bolsonaro, assessores de longa data perdem espaço — o que inclui até o próprio Francischini. Um dos primeiros a apoiar o capitão, quando ele ainda era visto apenas como uma figura folclórica do baixo clero, o deputado foi escanteado e não participa das decisões centrais de campanha como antes.
Em 2017, Bebianno foi apresentado a Bolsonaro por um amigo em comum — o engenheiro-agrônomo Carlos Favoreto, dono da consultoria ECP Environmental Solutions, e hoje condenado em segunda instância por corromper agentes do Ibama. Favoreto sugeriu a Bebianno que auxiliasse o presidenciável em processos contra ele, como a ação na qual é réu por injúria e incitação ao estupro contra a deputada Maria do Rosário (PT-RS). Bebianno, que já conhecia Bolsonaro das redes sociais, ansiava aproximar-se dele por simpatizar com suas ideias.
Bebianno trabalhou por mais de dez anos no escritório de advocacia Sergio Bermudes, no Rio, onde chegou a sócio mesmo sem nunca ter atuado em um grande contencioso. Sob sua responsabilidade, estavam pequenas causas coletivas que tinham como alvo grandes empresas, sobretudo seguradoras. Deixou o Bermudes em 2012 e manteve-se em carreira-solo até se tornar o que é hoje: o guardião das chaves da catraca que dá acesso a Bolsonaro.