Último Mês: Veja por apenas 4,00/mês
Continua após publicidade

Prisão de Youssef teve ‘dica’ de crianças à PF e ex-doleiro ‘inconformado’

Youssef, um dos primeiros delatores da Lava-Jato, foi detido pela PF a mando do novo juiz da operação, Eduardo Appio

Por João Pedroso de Campos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 24 mar 2023, 10h30 - Publicado em 21 mar 2023, 13h56
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Preso preventivamente pela Polícia Federal no início da noite desta segunda-feira, 20, por ordem do juiz federal Eduardo Appio, como revelou VEJA, o ex-doleiro Alberto Youssef foi detido pela Polícia Federal em uma casa de alto padrão em um condomínio à beira-mar, em Itapoá, litoral de Santa Catarina.

    Depois de irem inicialmente a outro endereço identificado como sendo de Youssef na cidade, um pequeno condomínio com dois blocos, sem tê-lo encontrado, os policiais ouviram de duas crianças nas proximidades do local a informação de que o ex-doleiro não morava ali. As crianças, que aparentavam ter 8 anos de idade, segundo relatório do delegado Jorvel Eduardo Albring Veronese, também disseram espontaneamente que Alberto Youssef era dono das torres e que o irmão dele, Antonio, morava perto dali. Antes de receber as “dicas” das crianças, a PF perguntou sobre “Alberto” a um homem que mora no local, mas ele disse não conhecer ninguém com esse nome por ali.

    Os policiais em seguida foram ao endereço de Antonio e localizaram uma cunhada do ex-doleiro, que informou aos agentes a residência atual dele, no Cancún Beach Residence, que constava como endereço antigo de Alberto Youssef junto à PF (veja abaixo).

    O condomínio onde o doleiro Alberto Youssef foi preso, em Itapoá (SC)
    O condomínio onde o doleiro Alberto Youssef foi preso, em Itapoá (SC) (Google Maps/Reprodução)

     

    A PF chegou ao condomínio à beira-mar por volta das 18h20 e foi recebida pelo porteiro, Ernande de Souza. Ele confirmou que Alberto Youssef residia ali, na casa de número 2, e disse que o ex-doleiro trabalhava no Porto Itapoá — o porto, no entanto, afirma que Youssef “não trabalha e nunca trabalhou no Porto Itapoá”. Alberto Youssef não estava em casa no momento da chegada da PF. Segundo o porteiro, o ex-doleiro saía todos os dias por volta das 7h30 e voltava após as 18h.

    Youssef apareceu no endereço por volta das 18h40, dirigindo um carro Mercedes-Benz azul “aparentemente antigo”, que ele estacionou no pátio interno do condomínio, quando foi abordado pela PF enquanto falava ao telefone com seu advogado, Luís Gustavo Flores — ele havia sido informado pela cunhada sobre a presença dos policiais.

    Continua após a publicidade

    Segundo o delegado da PF que cumpriu o mandado expedido pelo juiz federal Eduardo Appio, o ex-doleiro se mostrou “bastante inconformado” quando ouviu a ordem de prisão e em seguida ligou para a esposa, Joana, para comunicá-la de sua nova detenção. Em seguida ele entrou na viatura da PF, sem algemas, e foi levado à Superintendência da PF em Curitiba — inicialmente estava previsto que ele passasse a noite na delegacia federal de Joinville (SC). “Durante todo o trajeto” até a capital paranaense, onde chegaram por volta de 21h10, segundo relatório do delegado, Youssef manteve-se “questionador e inconformado”.

    A casa onde o doleiro Alberto Youssef foi preso em Itapoá (SC)
    A casa onde o doleiro Alberto Youssef foi preso, em Itapoá (SC) (//Reprodução)

    A prisão do doleiro da Lava-Jato

    Conforme revelou VEJA nesta segunda-feira, o juiz federal Eduardo Appio, desde fevereiro à frente dos processos da Operação Lava-Jato em Curitiba, determinou a prisão preventiva de Alberto Youssef, ex-doleiro cuja delação premiada foi um dos pilares do início da operação, em 2014. A defesa do ex-doleiro classificou a decisão como “absurda” e tenta revertê-la junto ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4).

    Na decisão que ordena a prisão, tomada no âmbito de uma representação fiscal para fins penais aberta pela Receita Federal, o magistrado afirma que o ex-doleiro não devolveu todos os valores de que se beneficiou ilicitamente, leva vida “privilegiada” e deixou de informar à Justiça Federal dados atualizados sobre seu endereço. O juiz federal também revogou a decisão que havia suspendido o caso por dez anos. Youssef foi condenado a mais de 100 anos de prisão em processos abertos a partir das investigações do petrolão.

    “O relatório fiscal para fins penais da Receita Federal deixa evidenciado que o acusado não devolveu aos cofres públicos todos os valores desviados e que suas condições atuais de vida são totalmente incompatíveis com a situação da imensa maioria dos cidadãos brasileiros”, afirma Appio. “O simples fato de que possui diversos endereços e de que estaria morando na praia já evidencia uma situação muito privilegiada e que resulta incompatível com todas as condenações já proferidas em matéria criminal”, conclui.

    Continua após a publicidade

    Foi a partir das relações entre Alberto Youssef e o ex-diretor de Abastecimento da petrolífera Paulo Roberto Costa que a Lava-Jato avançou sobre o monumental esquema de corrupção na estatal. O primeiro fio de ilegalidade captado pelos investigadores foi o famoso Range Rover Evoque com que o doleiro havia presenteado Costa, também delator, no valor de cerca de 250.000 reais, em maio de 2013.

    “A referida Operação Lava-Jato demonstrou, com juízo de total certeza, que Alberto Youssef, além de multirreincidente em crimes econômicos e de lavagem de dinheiro nos últimos 10 anos, tornou-se o personagem central da engrenagem que permitiu o desvio de muitos milhões dos cofres públicos e das estatais”, diz o juiz no despacho.

    Pelo acordo firmado com o Ministério Público Federal no âmbito da Lava-Jato, Alberto Youssef teria suspensos todos os inquéritos e processos da operação contra si depois que as sentenças impostas a ele somassem 30 anos de prisão. O ex-doleiro deixou a cadeia em novembro de 2016, quase três anos depois de ter sido preso pela Lava-Jato, em um hotel de São Luís (MA). Ele usou tornozeleira eletrônica até 2017 e vivia em um apartamento na Vila Nova Conceição, bairro nobre de São Paulo. Para o novo juiz da Lava-Jato, o ex-doleiro representa “elevada periculosidade social” e “sua atual condição de plena liberdade contribuiu com a sensação de impunidade nos seus casos”.

    Continua após a publicidade

    Um dos maiores doleiros do país, verdadeiro “banqueiro” do mercado paralelo, Alberto Youssef funcionava como caixa de propinas do esquema de corrupção que atingiu a Petrobras. Empresas de papel que ele controlava, como MO Consultoria, GDF Investimentos, RCI Software e Construtora Rigidez, recebiam por meio de contratos fictícios dinheiro de empreiteiras que integravam o cartel da estatal e repassavam os valores a políticos, seus operadores financeiros e ex-dirigentes da petroleira.

    O acordo de colaboração firmado entre Youssef e a Procuradoria-Geral da República foi o segundo do ex-doleiro em sua “carreira” no crime. Em 2004, ele já havia fechado ajustamento semelhante no caso Banestado, o primeiro do tipo na história do país, mas descumpriu as cláusulas e teve o acordo anulado pela Justiça paranaense – em 2021, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin restabeleceu a validade da delação. Em sua decisão nesta segunda, o juiz Appio pontua que “o acusado somente poderá ser beneficiado pela suspensão das ações penais caso cumpra determinados requisitos, um dos quais, assumir a condição de não delinquir”.

    Ao determinar a volta à prisão de um dos ícones entre os delatores da Lava-Jato, Eduardo Appio mostra a que veio. Crítico dos métodos do ex-juiz e hoje senador Sergio Moro (União Brasil-PR) e da antiga força-tarefa do MPF que atuou na operação, o magistrado assumiu o cargo com a disposição de não deixar os casos morrerem, mas tem dado sinais claros de que não adotará a mesma régua de seus antecessores.

    Publicidade
    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Veja e Vote.

    A síntese sempre atualizada de tudo que acontece nas Eleições 2024.

    OFERTA
    VEJA E VOTE

    Digital Veja e Vote
    Digital Veja e Vote

    Acesso ilimitado aos sites, apps, edições digitais e acervos de todas as marcas Abril

    1 Mês por 4,00

    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 12,50 por revista)

    a partir de 49,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.