A Delegacia de Homicídios do Rio de Janeiro está trabalhando com a tese de um possível complô entre intermediários e mandantes do duplo assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista, Anderson Gomes, no atentado ocorrido em 14 de março de 2018 no Estácio, região central da cidade.
Os investigadores do crime – que vai completar três anos dentro de nove dias – buscam, agora, comprovar e documentar as relações entre nomes envolvidos no inquérito policial, que está sob sigilo na unidade. Mais de cem diligências foram realizadas na tentativa de coletar provas somente em 2021. Os policiais consideram que o inquérito está em estágio avançado, mas não determinam nenhuma data para a conclusão dos trabalhos, que classificam como um dos casos de homicídios mais complexos do país.
A hipótese de motivação, de acordo com fontes ouvidas por VEJA, seria uma vingança contra o PSOL, legenda de Marielle e de seu padrinho político e amigo pessoal, o deputado federal Marcelo Freixo, que presidiu a CPI das Milícias em 2008 na Assembleia Legislativa do Rio e indiciou 226 pessoas, entre deputados, vereadores, PMs e o ex-chefe da Polícia Civil fluminense, Álvaro Lins. Marielle era assessora de Freixo na época, mas não atuou diretamente na comissão legislativa.
Até agora, ninguém foi apontado como um possível mandante ou intermediário dos assassinatos. O PM reformado Ronnie Lessa e o ex-PM Élcio de Queiroz são os réus apontados pela polícia e pelo MP do Rio como o atirador e o motorista do carro Chevrolet Cobalt prata clonado que emboscou o automóvel onde Marielle e Anderson estavam. Eles foram separados em unidades prisionais diferentes a pedido do Ministério Público do Rio a fim de evitar que combinassem versões, conforme VEJA revelou em dezembro.
No mês passado, policiais estiveram na Penitenciária Federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, para onde Lessa foi transferido, na expectativa de que ele revelasse quem seriam os possíveis mandantes e intermediários das mortes. O PM reformado, no entanto, nada falou – apenas alegou inocência e apontou o miliciano e ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (BOPE), Adriano Magalhães da Nóbrega, como o executor do crime. Até então, a polícia e o MP negam a participação do ex-capitão da PM no caso.
Nóbrega era chefe do Escritório do Crime, quadrilha de milicianos e assassinos de aluguel que mata sob encomenda de políticos, bicheiros e contraventores. Ele foi assassinado durante uma operação policial na Bahia, em fevereiro de 2020, em circunstâncias ainda não totalmente esclarecidas pelas autoridades.
VEJA revelou, em dezembro do ano passado, que dois milicianos do Escritório do Crime se filiaram ao PSOL em novembro de 2016, poucas semanas após Marielle ser escolhida como a 5ª vereadora mais votada no Rio, com mais de 46 mil eleitores. A suspeita da polícia é que eles tenham se infiltrado para fins de monitoramento das agendas e eventos do partido.
Quem são os milicianos suspeitos de infiltração no partido de Marielle
O casal de milicianos foi expulso da sigla após a informação vir à tona – o PSOL informou que não havia os desfiliado para não atrapalhar as investigações policiais.
Autoridades, no entanto, descartam a participação de Lessa, réu pelas mortes de Marielle e Anderson, no Escritório do Crime.