Em uma antecipada campanha para reassumir o comando do Congresso, o senador Davi Alcolumbre (União-AP) tem feitos gestos a parlamentares de diversos espectros políticos em busca de evitar concorrentes e se eleger de forma hegemônica, unindo o apoio do governo e da oposição em torno de seu nome.
Para isso, ele mantém as portas abertas de seu gabinete, além de avançar madrugadas adentro em jantares e confraternizações.
Os acenos à oposição estão claros: ele já procurou Jair Bolsonaro em busca da bênção do ex-presidente e também passou a encampar uma série de pautas defendidas pela oposição. A principal delas é a agenda que altera regras relativas ao Supremo Tribunal Federal – em outubro, a Comissão de Constituição e Justiça, presidida pelo senador, aprovou a toque de caixa uma proposta que limita as decisões monocráticas e os pedidos de vista.
Mas ainda não é o suficiente, e a oposição já rascunhou uma lista de pedidos a Alcolumbre. Recentemente, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) apresentou uma série de demandas que o grupo gostaria de ver avançar caso o senador amapaense seja eleito.
No rol, há temas econômicos, como novas regras tributárias, e ideológicos, como a redução da maioridade penal. Mas o principal deles é o projeto que anistia todos os envolvidos nos ataques do 8 de janeiro e restaura os direitos políticos de quem foi declarado inelegível em decorrência de atos, declarações e manifestações relacionados às eleições de 2022. A medida, se aprovada, reabilita Bolsonaro a disputar as eleições de 2026. O ex-presidente está inelegível até 2030.
Os cálculos na mesa
Dos 81 senadores, estima-se que pelo menos 30 deles são aliados a Bolsonaro – número que ainda precisaria angariar apoiadores do Centrão para dar aval à anistia, mas que pode ser definidor para a vitória do senador amapaense, inclusive se o governo Lula decidir não apoiá-lo.
Alcolumbre ouviu atentamente os apelos e não se manifestou sobre o mérito deles. Uma outra informação perfumou a negociação com o candidato. Desde já, bolsonaristas trabalham para aumentar seu tamanho no Senado, e preveem chegar a até 45 senadores a partir de 2027, garantindo uma maioria conservadora.
Assim, haveria o compromisso de que, se der aval à anistia agora, Alcolumbre pavimentaria o projeto de prolongar a sua permanência no comando da Casa, tendo o apoio garantido para a sua reeleição na disputa seguinte.
Atualmente, na oposição a Lula há possíveis candidatos ao comando do Senado, como Tereza Cristina (PP-MS), Rogério Marinho (PL-RN) e Ciro Nogueira (PP-PI). Se for firmado um acordo com Alcolumbre, porém, eles devem desistir da disputa.