Pai de Cid reclama de falta de apoio e abandono: ‘Só ele está lá mofando’
Em conversas reservadas, o general Mauro Lourena Cid vê prisão política do filho e questiona o fato de o processo não estar em andamento na 1ª instância
Nos últimos dias, as janelas da casa do ex-ajudante de ordens Mauro Cid ficaram constantemente fechadas, com o cuidado de as cortinas estarem devidamente posicionadas, de modo a bloquear qualquer imagem do que se passa lá dentro. O morador da residência, localizada em uma quadra de Brasília exclusiva para oficiais militares, está preso há mais de três meses em um batalhão do Exército, a poucos quilômetros dali. Desde então, o pai de Cid, o general Mauro Lourena Cid, deixou o Rio de Janeiro, se mudou para a casa do filho e vinha fazendo incursões junto a figuras poderosas – da cúpula do Exército ao ex-presidente Jair Bolsonaro – com pedidos de socorro para tentar reverter a prisão.
A sensação, porém, é a de que ninguém moveu uma palha pelo tenente-coronel, cujo período de prisão é contabilizado dia a dia. “Já são 105 dias, mesmo sem haver nenhuma denúncia. Cento e cinco!”, desabafou recentemente com uma das poucas pessoas que o visitaram. “E só ele está mofando lá”, acrescentou, dando destaque ao que fato de que a maioria dos envolvidos nas investigações das quais Cid faz parte está em liberdade – há outros dois militares presos. Para piorar, a própria situação do general mudou de figura, após a Polícia Federal indicar que ele também está envolvido na trama para vender presentes e joias recebidos por Bolsonaro. A partir daí, Cid caiu em prantos e decidiu colocar em curso uma estratégia para tentar blindar o pai. A defesa foi trocada e o militar decidiu confessar que participou dos crimes – e que o fez a mando de Bolsonaro.
Mauro Lourena fechou-se ainda mais em copas, levou o clima de tensão às alturas e tem conversado com pouquíssimas pessoas. Nessas conversas, revela-se, sobretudo, um pai desesperado por salvar o filho ou ao menos garantir que ele responda aos processos em liberdade. O general também garante que Cid não tinha nenhum poder decisório e que cabia a ele apenas colher as demandas e repassá-las ao chefe.
Antes de virar braço-direito de Jair Bolsonaro, em 2018, Cid estava de malas prontas para os Estados Unidos, onde participaria de um curso do Estado-Maior. No entanto, ele foi indicado pelo Exército para comandar a ajudância de ordens de Bolsonaro e, a partir daí, a vida dele mudou completamente. Esse enredo vem sendo lembrado a todo momento pelo pai, como uma forma de demonstrar que o tenente-coronel estava apenas cumprindo missões no âmbito de uma função militar.
Também causa especial incômodo o fato de Cid, preso preventivamente, sequer ter a quem recorrer ou ter direito à presunção de inocência. Mesmo sem foro privilegiado, os processos de Cid estão no Supremo Tribunal Federal (STF), sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes. A defesa do militar não conseguiu acesso aos autos. Para o pai, não há razão de o filho permanecer preso, inclusive porque todos os materiais probatórios, como celulares, computadores e tablets, já estão em posse da investigação.
“Nós viramos os piores bandidos do mundo, meu Deus do céu”, desabafou na última semana. Como complicador para a situação do filho, ele considera que Cid não é o alvo principal da Justiça e está sendo usado para chegar a seu superior – o que já o fez dizer algumas vezes que o filho cumpre uma “prisão política”.
O general Cid, como é conhecido no meio militar, é respeitado dentro da caserna e sempre foi tido como um exemplo de retidão. O envolvimento dele no caso pegou a cúpula do Exército de surpresa. Mauro Cid, porém, tem agido para aliviar a situação do pai. De acordo com o advogado Cezar Bitencourt, o tenente-coronel afirma que partiu dele próprio propor ao general que cedesse a sua conta bancária nos Estados Unidos para receber o dinheiro oriundo da venda de presentes luxuosos recebidos por Bolsonaro. Ainda segundo a defesa, o valor foi integralmente sacado e entregue ao ex-presidente, e nada ficou com a família.