Pela primeira vez desde a redemocratização, o Rio Grande do Sul elegerá o mesmo governador por duas eleições seguidas. O feito coube a Eduardo Leite (PSDB) que, embora tenha renunciado ao seu cargo em março deste ano com a aspiração de viabilizar uma candidatura à Presidência da República, derrotou nas urnas o bolsonarista Onyx Lorenzoni (PL) por 57,12% a 42,88%, com 91% dos votos apurados, e ganhou o direito a mais quatro anos de mandato no Palácio Piratini.
A vitória de Leite representa uma virada na eleição, já que o tucano terminou o primeiro turno atrás de Onyx — ele teve 37,5% dos votos válidos contra 26,8% do ex-ministro. Leite ainda passou pelo drama de avançar ao segundo turno com apenas 2,5 mil votos a mais que o terceiro colocado, Edegar Pretto (PT).
Mesmo sem declarar voto no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a Presidência da República, como queria o PT, a rivalidade contra o bolsonarista fez com que o tucano conquistasse o apoio público de algumas lideranças da esquerda no estado, como a ex-deputada Manuela D’Ávila (PCdoB) e o ex-governador Tarso Genro (PT), soma fundamental para que Leite vencesse Onyx no segundo round.
As últimas semanas ainda foram marcados por tropeços de Lorenzoni, que incluíram ataques homofóbicos a Leite, que é homossexual, falta de cortesia em debates na TV e declarações contra a vacina. No fim, as questões contra o bolsonarista prevaleceram sobre as críticas ao tucano, que incluíam o fato de ele ter se lançado candidato após ter dito que rechaçava a reeleição e o fato de ter recebido pensão como ex-governador do estado nos meses após a renúncia.
Com a vitória inédita, Leite também se consolida como uma grande liderança nacional do PSDB — talvez a maior delas no partido, que foi um dos grandes derrotados das atuais eleições. Ele também se coloca como um dos únicos sobreviventes à polarização que tomou conta do pleito nacional. Por isso, apesar da frustração ao pleitear voos maiores neste ano, o tucano já surge como um potencial candidato para a Presidência da República em 2026. O governador nunca escondeu o desejo, e o segundo trunfo seguido no estado era a única maneira de mantê-lo viável.
Eduardo Leite tem 37 anos e é filiado ao PSDB desde 2001, quando ainda cursava o ensino médio. Ele se formou bacharel em direito em 2007 na Universidade Federal de Pelotas, cidade onde nasceu e, no ano seguinte, foi eleito vereador. Numa ascensão meteórica, foi eleito o prefeito mais jovem da história de Pelotas em 2012 e, já contrário à reeleição, fez campanha para sua vice ser eleita quatro anos depois.
Em 2018, Leite se candidatou ao governo do Rio Grande do Sul e derrotou em segundo turno José Ivo Sartori (MDB), que estava no cargo. O tucano tentou se habilitar para disputar a Presidência da República pelo seu partido em 2022, mas perdeu as prévias para João Doria, que também acabou não se tornando candidato em razão de divergências internas no partido. O gaúcho então, após ter renunciado, viu-se obrigado a voltar a disputar o pleito estadual. A trajetória errática prejudicou a campanha do tucano, mas não o suficiente para impedir a sua volta ao governo do Rio Grande do Sul.