Numa operação cercada de sigilo, o chefe do Primeiro Comando da Capital (PCC), Marcos Camacho, o Marcola, foi transferido na sexta 22 do presídio de Rondônia para a penitenciária federal de segurança máxima de Brasília, que fica ao lado da Papuda e a 18 quilômetros do Palácio do Planalto. A polícia havia descoberto a existência de um plano para resgatar o criminoso. A remoção de Camacho e de outras lideranças do PCC para a capital federal provocou um embate entre o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), e o ministro da Justiça, Sergio Moro. “Tenho de zelar pela população brasiliense, por 186 representações diplomáticas, pelo Congresso Nacional, pelo Palácio do Planalto. É inadmissível aceitar a instalação do crime organizado na capital da República”, afirmou o governador, que quer fechar a penitenciária federal, inaugurada no ano passado.
Um relatório de inteligência da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal informa que, em bilhetes e anotações apreendidos pela polícia, o PCC e outras facções criminosas se mostram otimistas com as transferências para Brasília, o que lhes daria mais capacidade de organização e facilitaria estabelecer canais de comunicação. O documento, obtido por VEJA, também aponta fragilidades de segurança na região da penitenciária, cercada por grandes rodovias, que “permitem fácil e rápido deslocamento em casos de rota de fuga”, além de um aeroporto a apenas 11 quilômetros do presídio, com capacidade para receber aviões de médio porte.
Há ainda um terceiro e um quarto motivos de preocupação. Ao transferir as lideranças criminosas para Brasília, o governo federal estaria importando junto a possibilidade de rebeliões e enfrentamentos como os que ocorreram recentemente no Ceará. Na avaliação das autoridades brasilienses, o discurso do presidente Jair Bolsonaro pregando um combate implacável ao crime organizado também pode desencadear reações de “proporções muito graves”.
O ministro Sergio Moro discorda dessa avaliação e disse que há exagero na preocupação do governador do Distrito Federal. Seu argumento é elementar: “O presídio de segurança máxima foi feito exatamente para isolar e absorver essas lideranças criminosas”.
Publicado em VEJA de 3 de abril de 2019, edição nº 2628
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