“Pare de jogar água no nosso moinho”. Foi assim que, em maio passado, o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva (Solidariedade-SP), pediu para que o ex-presidente Lula, a quem a legenda de Paulinho declarava apoio, parasse de acenar publicamente em prol da revogação da reforma trabalhista. A ideia do parlamentar era deixar temas espinhosos como este para uma espécie de terceiro turno, quando um eventual governo Lula negociaria diretamente assuntos de interesse dos trabalhadores com o Congresso. “Estava uma loucura o que Lula vinha falando em público. Ele soltava nos discursos coisas que não tinham nada a ver e vários setores começaram a fazer muita cobrança por moderação. Agora ele está se vigiando”, disse Paulinho a VEJA.
Por trás da avaliação do presidente da entidade que, no governo do petista, se tornou a segunda maior central sindical do país está o desejo de que um possível terceiro mandato de Lula reative financeiramente entidades de trabalhadores. O recado não dito é que muitos deles esperam que com o retorno do lulismo volte também algum modelo de contribuição sindical compulsória. O imposto obrigatório foi extinto em 2017 durante a reforma trabalhista e não consta da prévia do plano de governo de Lula divulgada na terça-feira, 21. No documento, há referência a um genérico “financiamento solidário e democrático da estrutura sindical”.
“O que a gente quer é que seja determinado, por lei, que os trabalhadores e a assembleia livre e soberana decidam qual é a contribuição dos filiados de um sindicato. E as centrais sindicais e as assembleias livre e soberana decidam qual é a contribuição do sindicato para a entidade”, disse Lula em abril durante reunião da direção nacional da CUT. “Por que que o Temer acabou com a contribuição assistencial aos sindicatos? Como é que o sindicato vai viver se não tem recurso para suas atividades?”, questionou Lula, no mês seguinte, na presença de Paulinho.
Em 2017, último ano de vigência do imposto sindical, os sindicatos embolsaram 3,6 bilhões de reais. A reforma trabalhista devastou as finanças do sindicalismo, e juntos, sindicatos, centrais, federações e confederações, que receberam bilhões de reais em 2017, ganharam no ano passado 65 milhões de reais. No mesmo ano, só a CUT viu o caixa do imposto sindical encolher de 62 milhões de reais anuais para 274.000 reais em 2021. Pelos cálculos de técnicos do Departamento de Estatística e Estudos Sócio Econômicos (Dieese), se não tivesse sido extinto, o imposto sindical geraria hoje arrecadação de mais de 4 bilhões de reais por ano.