O italiano Cesare Battisti tem uma dívida de gratidão com o Brasil e particularmente com o PT. Acusado de cometer quatro homicídios na Itália na década de 70, quando liderava a organização extremista Proletários Armados pelo Comunismo, ele foi condenado em 1993. Não cumpriu a pena porque fugiu para a França, onde viveu até 2004. Naquele ano, o presidente francês, Jacques Chirac, manifestou-se favoravelmente à sua extradição. A Itália, enfim, acertaria as contas com o terrorista. Ledo engano. Battisti fugiu novamente e acabou no Brasil. Em março de 2007, foi preso no Rio de Janeiro, mas imediatamente abraçado por companheiros petistas. O então ministro da Justiça, Tarso Genro, concedeu-lhe o status de refugiado político, contrariando parecer do Conare. Na época, Battisti era festejado como um “ativista” de esquerda, um perseguido político que merecia a solidariedade e a proteção do governo. Assim foi feito.
Em novembro de 2009, o Supremo Tribunal Federal autorizou a extradição do terrorista, mas deixou a decisão final para o presidente da República. No último dia de seu mandato, Lula negou-se a entregar Battisti à Itália, sob o argumento de que ele correria risco de morte. Protegido pelo governo brasileiro, o italiano mantinha a cantilena segundo a qual era inocente e não passava de um troféu para o então primeiro-ministro Silvio Berlusconi, expoente da direita em seu país. Com o impeachment de Dilma Rousseff e a ascensão de Michel Temer ao poder, a sorte de Battisti começou a mudar. Em outubro de 2017, ele foi preso na fronteira com a Bolívia, com 5 000 dólares e 2 000 euros. Era uma tentativa de fuga. Naquela época, já circulavam rumores de que o governo Temer determinaria a sua extradição. Quando ela foi realmente formalizada, Battisti já não estava mais no Brasil. Na segunda tentativa, ele conseguiu fugir para a Bolívia, onde acabou capturado. Extraditado para a Itália, o terrorista confessou os crimes que negara por mais de quatro décadas. O “ativista” havia mesmo executado quatro pessoas a sangue frio. Agora, cumpre pena de prisão perpétua.
Publicado em VEJA de 12 de junho de 2019, edição nº 2638
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