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O amigão do poder

Quem é Magno Malta, o senador que não se reelegeu, apoia todos os governos desde 2002 e agora busca ocupar um cargo no ministério de Bolsonaro

Por João Batista Jr. Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 16h32 - Publicado em 2 nov 2018, 07h00
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  • Transmitido ao vivo pelas emissoras de televisão, o primeiro discurso do presidente eleito Jair Bolsonaro foi precedido de uma pregação do senador capixaba Magno Malta, do PR. Com os olhos fechados, corrente dourada, camiseta justa, suando muito, o político e pastor evangélico enalteceu as crianças, os valores da família e a Deus, por acabar com os “tentáculos da esquerda”. Poderia ser apoteótico, não fosse por um detalhe: impedido por seu partido de ser vice na chapa de Bolsonaro, Malta não conseguiu se reeleger para o Senado. Ele foi um dos raros políticos apoiados por Bolsonaro a perder nas urnas, embora contasse com a maior verba partidária da sigla em seu estado: 2,7 milhões de reais. Tudo em vão.

    As razões para a derrota começaram com um divórcio rumoroso, tema que incomodou os evangélicos pentecostais que compõem seu principal rebanho político. O senador sepa­rou-se de Kátia Malta logo depois da eleição de 2010. Meses depois, a cantora gospel e deputada federal Lauriete Rodrigues de Jesus se divorciou — ela era mulher do pastor e também cantor gospel Reginaldo Almeida. Todos os envolvidos, amigos e irmãos de fé, se frequentavam. Malta foi apontado como o pivô da separação da deputada. Em 2013, ele e Lauriete se casaram. Em clima de “já ganhou”, alheio ao mal-estar provocado por sua vida pessoal, Malta apostava que angariaria 1,5 milhão de votos, mas recebeu pouco mais de 611 000. Ficou apenas em terceiro lugar. Ele não se deu ao trabalho de gastar sola de sapato no estado. Preferiu fazer orações e vídeos de dentro do hospital onde Bolsonaro se recuperava do atentado sofrido em Juiz de Fora.

    Jair Bolsonaro
    CORRENTE DE PODER – O primeiro discurso de Bolsonaro: aberto com uma oração feita por Malta (//Reprodução)

    Com apoio minguante dos eleitores, Malta foi vítima de outra situação desagradável, a acusação de ter inventado uma história caluniosa para atrair popularidade. Em 2010, durante a CPI da Pedofilia, presidida por ele, Malta acusou o cobrador Luiz Alves de Lima de abuso sexual de menor. Buscava um caso que pudesse atrair a atenção da imprensa e, evidentemente, votos. Foi quando a filha de Lima, então com 2 anos, foi a um hospital para dar continuidade ao tratamento de oxiúro, verme comum em crianças, que provoca intensa coceira. A médica que acompanhava o caso estava de folga, e a criança foi atendida por outra profissional — que desconfiou do motivo da vermelhidão na região íntima.

    Lima foi levado à delegacia, onde Malta apareceu com câmeras de TV acusando-o de estupro infantil. “O senador me usou para se eleger. Ele trabalhou como delegado, promotor e juiz do caso”, diz Lima. O cobrador ficou preso dez meses, onde foi torturado por policiais e outros detentos, sem que a filha sequer tivesse sido submetida a um exame para comprovar o rompimento do hímen. A menina permaneceu três meses sob a guarda do Conselho Tutelar. Lima foi inocentado, e Malta hoje é investigado pela Procuradoria-Geral da União pelo caso. Procurado por VEJA, Malta não quis se manifestar a respeito do episódio.

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    Magno Malta
    SUOR – Faixa-preta em jiu-jítsu, ele diz treinar duas horas por dia (//.)

    Nascido na Bahia e radicado em Cachoeiro do Itapemirim, cidade natal do cantor Roberto Carlos e do cronista Rubem Braga, Malta é uma espécie, digamos assim, de Romero Jucá. Onde há poder, lá está ele. Apoiou Lula nas duas eleições, em 2002 e 2006, e depois Dilma Rousseff, em 2010 e 2014. Sim: também esteve ao lado do governo de Michel Temer. Em 2006, no governo Lula, sua fidelidade foi recompensada com a concessão de uma rádio no Espírito Santo. Por ser férreo defensor de assuntos caros à bancada conservadora, com muita articulação entre pastores de todo o Brasil, ele se aproximou de Bolsonaro. Viraram amigos. “O Malta era a maior tribuna dos evangélicos no Senado”, diz o pastor e também amigo Silas Malafaia. “Pelo tanto que trabalhou por Bolsonaro, ele merece ganhar um ministério.” O ministério seria providencial para manter a condição de foro privilegiado de Malta, mas o núcleo duro do futuro governo não sabe onde encaixar alguém com currículo tão controverso.

    O comportamento do senador derrotado não ajuda muito. Com visual que oscila entre o figurino de Amado Batista e o vestuário clássico de um bicheiro carioca, Malta é faixa-preta em jiu-jítsu e diz treinar duas horas diárias. Integra a banda de pagode gospel Tempero do Mundo. Adora relógios de ouro e roupas de grife. E já tomou uma decisão coerente com seu passado: vai trocar o PR pelo PSL.

    Publicado em VEJA de 7 de novembro de 2018, edição nº 2607

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