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Nicolás Maduro coloca em xeque sonho de liderança global de Lula

Apoio a ditador venezuelano causa constrangimento internacional ao presidente, que também tem a posição de líder regional contestada pelo argentino Javier Milei

Por Daniel Pereira 28 jul 2024, 15h18

Em seu terceiro mandato no Palácio do Planalto, Lula listou entre suas prioridades reconquistar protagonismo internacional, tornar-se um líder global e, segundo o ministro Wellington Dias (Desenvolvimento Social), até pleitear o Prêmio Nobel da Paz. Para alcançar esses objetivos, o presidente aposta numa aliança planetária para combater a fome, proposta que tem sido debatida no âmbito do G-20, grupo que reúne os países com as maiores economias do mundo.

Hoje, o sonho do presidente parece distante, quase inalcançável, não apenas pela limitada influência do Brasil no cenário externo, mas por obra do próprio Lula. Enquanto tenta tirar do papel uma iniciativa meritória de mitigação dos efeitos da pobreza, o petista acumula reveses diplomáticos. Ele fracassou, por exemplo, nas tentativas de mediar um acordo de paz entre Rússia e Ucrânia e um armistício entre Israel e o grupo terrorista Hamas. Nos dois casos, cometeu desatinos verbais provocados por recaídas ideológicas incompatíveis com a tradição da diplomacia brasileira de buscar a conciliação de posições divergentes.

Vizinhos problemáticos

Em sua passagem anterior pela Presidência, Lula chegou a ser chamado de “o cara” pelo então presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, mas não alcançou o status de líder global. Historicamente, o Brasil é um líder regional, que pode ter um pouco mais de protagonismo no debate internacional dependendo do assunto em questão, como combate à fome ou proteção do meio ambiente. Mesmo essa influência regional anda contestada e, de certa forma, desmoralizada.

O presidente da Argentina, Javier Milei, não faz questão de manter qualquer tipo de diálogo com Lula, a quem já chamou de corrupto e “perfeito dinossauro idiota” e acusou de tentar interferir no processo eleitoral argentino a fim de garantir a vitória da esquerda. O caso mais emblemático, no entanto, refere-se ao ditador Nicolás Maduro, que disputa uma nova reeleição para a presidência da Venezuela.

Desde o início do terceiro mandato, Lula apoia Maduro, finge que há democracia na Venezuela e ignora as prisões e perseguições políticas que ocorrem por lá. Diante do desgaste que essa posição causou dentro e fora do Brasil, o presidente até cobrou eleições limpas na Venezuela, mas só elevou o tom contra Maduro, mesmo assim de forma comedida, na semana passada, quando se disse assustado com a ameaça do ditador de submeter os venezuelanos a uma guerra civil ou a um banho de sangue caso perca a eleição.

Em reação à declaração do presidente brasileiro, Maduro afirmou que quem ficou assustado deveria tomar um chá de camomila. Ou seja: zombou do presidente brasileiro. Antes de sonhar com uma liderança global, Lula deveria render homenagem à tradição conciliatória da diplomacia brasileira, deixar de lado as recaídas ideológicas e recuperar, antes de mais nada, a condição de líder regional. Andar de mãos dadas com Maduro não ajuda nada nessa tarefa.

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