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Marcos do Val, sobre pedido de Bolsonaro: ‘Fiquei assustado com o que vi’

Senador diz que plano do ex-presidente era flagrar Alexandre de Moraes em alguma inconfidência e usar o material como argumento para anular as eleições

Por Leonardo Caldas
Atualizado em 4 jun 2024, 10h52 - Publicado em 2 fev 2023, 08h59
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  • O senador Marcos do Val (Podemos-­ES) confirmou a VEJA que participou da reunião com Jair Bolsonaro e o deputado federal Daniel Silveira no dia 9 de dezembro do ano passado. Na ocasião, o então presidente pediu que ele gravasse conversas do ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral. O plano era flagrar o magistrado em alguma inconfidência ou indiscrição e usar o material como argumento para anular as eleições, impedir a posse de Lula e manter o ex-capitão no poder:

    Qual a sua reação no momento em que recebeu a proposta de gravar o ministro? Na hora, eu disse que aquilo era ilegal. Que gravações sem autorização judicial poderiam configurar crime. Nunca compactuei com atos radicais ou extremistas. Sou um democrata, sempre vou lutar para que a democracia permaneça inabalável. Uma operação como a que estava sendo articulado colocaria o Brasil em isolamento mundial, provocaria uma grave crise econômica, traria mais miséria e pobreza. As consequências seriam imprevisíveis.

    Gravar um ministro, por si só, pode ser um crime, mas não é um golpe. A ideia era que eu gravasse o ministro falando sobre as decisões dele, tentar fazer ele confidenciar que agia sem observar necessariamente a Constituição. Com essa gravação, o presidente iria derrubar a eleição, dizer que ela foi fraudada, prender o Alexandre de Moraes, impedir a posse do Lula e seguir presidente da República. Fiquei muito assustado com o que ouvi.

    O presidente disse tudo isso? Disse.

    O senhor sempre foi um aliado do ex-presidente. Ficou assustado por quê? Sou um parlamentar que representa o espectro político de direita e o presidente nunca mostrou qualquer intenção em atuar fora das quatro linhas. A relação dele com o deputado Daniel acabou ficando muito próxima, principalmente depois que o presidente concedeu a ele a anistia pela condenação naquele processo do Supremo. Sei que o Daniel troca muita informação com o presidente, e talvez isso tenha influenciado de alguma maneira o que aconteceu. O Daniel disse que eu ia salvar o Brasil e o presidente repetiu. O Daniel estava lá instigando e o presidente comprou a ideia. Não consigo imaginar alguém vindo ao meu gabinete para tratar de um assunto desse. Uma coisa meio irracional.

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    Por que razão o senhor acredita que foi escolhido para essa missão? Me fiz essa pergunta várias vezes. Aliás, fiquei surpreso ao saber que o presidente queria falar comigo. Foi a primeira vez que nos encontramos fora de uma solenidade oficial. Muita gente sabe que tenho uma ligação com o ministro Alexandre de Moraes. Quando ele foi secretário de Segurança de São Paulo e o Geraldo Alckmin era governador, fui contratado para dar treinamento para a polícia paulista. Não somos íntimos, mas temos um excelente relacionamento. Por isso — e também por dever cívico e de consciência —, relatei a ele o que estava acontecendo. Era a coisa certa a ser feita.

    Publicado em VEJA de 8 de fevereiro de 2023, edição nº 2827

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