Seus seguidores no Twitter foram de 400 000 para 815 000 nas eleições. Por que você começou a falar mais de política? Eu nem usava direito a minha conta, mas, com a eleição se aproximando, fiquei mais ativo. Desde o início da minha carreira, havia prometido não tomar um lado. Minhas músicas, por si só, são políticas e passam uma mensagem. Critiquei os últimos governos em algumas letras, aliás. Mas, diante da iminente perda de direitos de minorias, da disseminação de ódio e de notícias falsas, decidi me posicionar contra Jair Bolsonaro.
Você ampliou a audiência na rede, mas também encontrou novos críticos. Houve até quem dissesse que “a maconha corroeu seu cérebro”. O que acha desses comentários agressivos nas redes sociais? As pessoas não têm freio. Muitas falaram que iriam me matar, ou desejaram a minha morte, e me xingaram de vários absurdos. No geral, as pessoas perderam o senso do limite. Mas há também uma troca interessante: conheci gente aberta ao debate.
Você tem partido? Não sou petista, mas defender os direitos das minorias me fez virar alvo. As pessoas estão passionais. Escolhem um candidato por ele ser de uma determinada igreja, por torcer para o Flamengo, e assim por diante. Não pensam no coletivo, mas nelas próprias. Então qualquer voz que difere passa a ser rechaçada. Muita gente perdeu meses ou até um ano de sua vida para defender um político. Na boa, políticos não são heróis. Tratá-los assim não faz o menor sentido.
O senhor foi acusado de racismo por chamar o deputado eleito Hélio Bolsonaro de “negão do Bolsonaro”. Errou nessa crítica? Não sou racista. Eu me perdi em alguns momentos, passei do limite. Fui infeliz no comentário, sim. Mas Jair Bolsonaro tem um histórico de falas contra os negros, como medir quilombolas por arrobas. Isso demonstra preconceito.
Uma de suas maiores bandeiras é a descriminalização da maconha, assunto que não teve espaço no debate eleitoral. Ficou chateado? Sinto que voltamos para 1993, ano em que comecei minha carreira e havia perseguição contra o Planet Hemp. Falo do fundo do meu coração: tomara que eu esteja errado e que o Brasil melhore, mas estou muito decepcionado com o país e com os riscos reais de retrocesso, de minorias como LGBTs perderem direitos garantidos há tempos. A escolha ministerial aponta absurdos. O juiz Sergio Moro ganhar o Ministério da Justiça parece uma espécie de premiação por ter prendido o outro (Lula).
Em quem o senhor votou? Sou contra o voto obrigatório. Essa medida não combina com um país democrático. Não votei em nenhum turno porque estava viajando. Se pudesse, votaria em Fernando Haddad — um voto contra Bolsonaro.
Publicado em VEJA de 14 de novembro de 2018, edição nº 2608