Sexto entrevistado do evento Amarelas ao Vivo, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), narrou sob sua ótica os dias que sucederam a eclosão da delação da JBS, quando o governo ficou por um fio e ele, Maia, ficou próximo de assumir a Presidência. Em entrevista ao redator-chefe de VEJA Policarpo Junior, Maia diz ter pedido ao seu partido, o DEM, que não “fizesse campanha” para que ele assumisse: “Decidi que não caberia a mim ser presidente em cima de uma denúncia, que era uma decisão do Parlamento”.
O presidente da Câmara, que utilizou sua prerrogativa de não votar nas duas denúncias apresentadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Michel Temer, afirmou que, se tivesse se manifestado, teria sido contra o prosseguimento de ambas as acusações. Questionado se está convicto da inocência do presidente, ele titubeou e argumentou que era uma questão de falta de provas: “Eu votaria contra o recebimento das duas denúncias porque tenho convicção de que as provas colhidas pelo Ministério Público não eram suficientes. Com um maior tempo de investigação, poderiam ter sido recolhidas mais provas”.
Evidências, diz, também faltam nas acusações contra ele próprio. Rodrigo Maia foi citado por delatores da Odebrecht sob a menção de ter recebido dinheiro de caixa dois. Segundo ele, as alegações dos colaboradores são falsas e ele será inocentado. “Eu fui citado sem provas. Tenho certeza que os inquéritos serão arquivados”, afirmou.
Presidente de uma Câmara muito abalada pela Operação Lava Jato, como admite, o deputado do DEM defende que os crimes de caixa dois, o recebimento de dinheiro não declarado para campanhas eleitorais, e o de corrupção são diferentes. “Não que caixa dois não tenha que ser investigado, mas é uma outra acusação”, justificou.
Ele rejeitou antecipar o cenário presidencial de 2018, afirmando que, até lá, “ainda faltam 1.000 anos”. Rodrigo Maia não descartou uma candidatura própria do seu partido, mas observa que não há um nome natural e que, nesse caso, primeiro se constrói um programa e depois vai atrás daquele que tem mais chance de conseguir levá-lo ao Planalto. “Primeiro você organiza o partido, vê quais as ideias e depois pensa no nome mais viável. No meu partido, seria o prefeito de Salvador [ACM Neto], mas, até onde eu sei, ele quer ser candidato ao governo da Bahia”, disse o presidente da Câmara.
Maia aproveitou para afastar os boatos de que a sua legenda teria cortejado o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), para ser o candidato. “Nós não brigaríamos com o PSDB por isso”, afirmou. O deputado ainda citou frases que disse ter lido na imprensa que seriam boas metáforas da movimentação do paulistano em 2016. “Ele correu uma maratona como se fosse uma corrida de 100 metros. É claro que faltaria fôlego”, exemplificou.
Rio de Janeiro
Parlamentar do Rio de Janeiro, por vezes cotado para se candidatar à sucessão de Luiz Fernando Pezão (PMDB), Maia nega que esteja no páreo e diz pretender um novo mandato como deputado. “Eu sou candidato a deputado federal. É o que os meus votos me permitem ser”.
Analisando a crise no seu estado natal, o presidente da Câmara disse acreditar que o caos financeiro do Rio veio de “uma série de aumentos somados aos desvios que estamos vendo agora”. “Tivemos muitas oportunidades perdidas de organizar as contas públicas”, lamentou, alegando que a decisão de apoiar a reeleição de Pezão em 2014 veio de uma ordem do comando nacional do DEM. “Fomos oposição do Garotinho ao Cabral”, se justifica o parlamentar.
“Essa crise foi apoiada durante muitos anos e por muitas pessoas. Durante uma época, eu tinha dificuldade até nos meus grupos de amigo por falar mal do Cabral”, afirmou. O próximo governador, que ele não diz quem acredita que será. “terá um desafio enorme”, aproveitando para mencionar o fato de ter sancionado, como presidente em exercício, o acordo do governo federal com o Estado do Rio de Janeiro.
Reforma da Previdência
O deputado Rodrigo Maia, na entrevista a Policarpo Júnior, fez uma defesa enfática da Reforma da Previdência, que está na pauta da Câmara para os próximos meses. Na visão de Maia, se a mudança nas regras não ocorrer, não será possível discutir propostas de investimento público nas eleições do ano que vem. “Quem vai, em 2018, prometer algo para 2019 sem a Reforma da Previdência vai estar mentindo”, atestou o parlamentar.
Na avaliação dele, não há outra saída que não seja reformar o sistema e que é incompreensível a reação popular à medida. “As pessoas não entendem ou não querem entender que a crise da Previdência do Brasil engole qualquer solução que você queira dar por outro caminho”. “É muito bonito falar em Educação e Saúde, mas da onde vão tirar os recursos?”, questionou.