Eleito neste domingo, 30, com uma diferença de cerca de 2 milhões de votos em relação a Jair Bolsonaro, Luiz Inácio Lula da Silva estava preso em Curitiba quando viu da TV de sua cela de 15 metros quadrados a vitória de Jair Bolsonaro, em 2018, sobre Fernando Haddad (PT). Antes disso, em março de 2016, o petista foi alvo da ira de manifestantes que foram às ruas de todo o país tão logo o então ministro Sérgio Moro derrubou o sigilo de um grampo telefônico da então presidente Dilma Rousseff. Na ocasião, Lula estava prestes a ser nomeado ministro da Casa Civil, em uma empreitada que teve um duplo objetivo: salvar o governo petista (Lula trataria de negociar uma pacificação com o Congresso) e, principalmente, dar foro privilegiado ao ex-presidente (e tirar de Curitiba as investigações contra ele). A nomeação foi barrada pelo ministro Gilmar Mendes, do STF, e Dilma sofreu um impeachment no fim daquele ano.
Principal alvo de Moro, o petista passou 580 dias no cárcere, entre abril de 2018 e novembro do ano seguinte. Acusado e condenado a mais de 25 anos de cadeia na Operação Lava-Jato, Lula enfrentou três mortes nesse ínterim (em fevereiro de 2017 ele havia perdido a esposa, Marisa Letícia): a do amigo e advogado Sigmaringa Seixas, do irmão Genival Inácio da Silva, o Vavá, e do neto Arthur, de apenas sete anos. Nesse último caso, ele obteve autorização da Justiça e pode deixar a cadeia para ir ao velório da criança.
Quando deixou definitivamente a sede da Polícia Federal de Curitiba, devido à mudança de entendimento do Supremo acerca da prisão em casos de condenação em segunda instância, o então ex-presidente disse que não guardava rancor. “Eu saio daqui sem ódio. Aos 74 anos meu coração só tem espaço para amor porque é o amor que vai vencer neste país”.
As reviravoltas jurídicas e políticas de Lula começaram a ocorrer a partir daí. Em março de 2021 ele recuperou a elegibilidade, após o ministro Edson Fachin, do STF, anular todas as suas condenações na Lava-Jato, sob o argumento de que a 13° Vara Federal de Curitiba não tinha competência para julgar os casos do apartamento tríplex do Guarujá, do Instituto Lula e do Sítio de Atibaia. No mesmo ano, a 2° Turma do STF declarou a suspeição do ex-juiz Sérgio Moro, o que resultou na anulação de todas as acusações que foram feitas ao petista.
Com o caminho jurídico aberto, Lula iniciou a disputa pela Presidência da República e se colocou como principal adversário de Jair Bolsonaro. Movimento importante na campanha, fechou uma aliança considerada improvável com o ex-adversário Geraldo Alckmin, que passou a ser o vice da chapa. A ampla coligação rendeu ao petista a vitória no primeiro turno, com seis milhões de votos sobre o adversário. No segundo turno, com o apoio da ex-presidenciável Simone Tebet (MDB) e de uma ampla frente de políticos, como Fernando Henrique Cardoso e José Serra, Lula enfim triunfou.
Em maio de 2022, dois anos e meio depois de deixar a prisão e poucos meses antes de se tornar presidente pela terceira vez, Lula se casou com a socióloga Rosângela Silva, em uma festa para poucos convidados em São Paulo. Próxima primeira-dama do Brasil, Janja, como é conhecida, teve papel importante na campanha que se encerrou neste domingo, 30. Ele participou das principais reuniões e eventos, introduziu no discurso de Lula temas novos (como o cuidado aos animais) e fez ponte com a cantora Anitta, um dos primeiros apoios de peso do meio artístico para o agora futuro mandatário do Brasil.