O ex-presidente Lula e o PT pretendem explorar eleitoralmente o aumento nos preços da gasolina, do diesel e do gás anunciado pelo governo de Jair Bolsonaro. A ideia é usar o reajuste para reforçar a ofensiva partidária destinada a impedir as privatizações da Eletrobras e dos Correios e vender ao eleitorado a ideia de que é preciso “renacionalizar” a Petrobras e aumentar a presença do Estado em empresas consideradas estratégicas para o desenvolvimento do país. Hoje, segundo a cantilena petista, a petrolífera brasileira se guia apenas pela lógica do lucro e está a serviço única e exclusivamente de seus acionistas, e não do desenvolvimento brasileiro.
“Renacionalizar” a Petrobras não significa reestatizar a empresa, que continuará com o capital aberto. Esse processo teria o objetivo, segundo os petistas, num discurso tipicamente de campanha, de colocar “os interesses do povo” acima do dos investidores na condução da companhia. O que isso significa na prática? Nos governos do PT, como se sabe, reduziu-se a tarifa de energia, por exemplo, na canetada. Foi um tiro no pé, e a medida contribuiu para um rombo bilionário nas contas da Eletrobras, que o governo Bolsonaro agora tenta privatizar, sob forte resistência da oposição.
Depois de anunciado o reajuste dos combustíveis, Lula atacou as privatizações. Disse ele no Twitter, rede social em que tem mais de 3 milhões de seguidores: “Você sabe por que a gasolina está cara? Você sabe por que o óleo diesel está caro? É porque este Brasil tinha uma grande distribuidora chamada BR que foi privatizada, e agora você tem 400 empresas importando gasolina dos Estados Unidos a preço de dólar quando nós temos autossuficiência e produzimos petróleo em reais”.
Essa posição do PT é antiga e conhecida. Em 2006, quando disputou a reeleição, Lula acusou o ex-governador Geraldo Alckmin de querer privatizar a Petrobras, o Banco do Brasil e outras empresas controladas pela União. Alckmin, que agora desponta como favorito para ser o vice de Lula na próxima sucessão presidencial, reagiu aparecendo em público todo enfeitado com símbolos de estatais. Os petistas também sempre acusaram os adversários de “entreguismo” — de uma suposta inclinação para entregar a Petrobras aos interesses das multinacionais, dos Estados Unidos e de todos os adversários ideológicos da legenda.
Durante muito tempo, esse discurso deu certo, mas faz tempo que ele perdeu a pretensa nobreza de propósito. A Operação Lava-Jato desmantelou um monumental esquema de corrupção que atuava, entre outros, na Petrobras e na Eletrobras. Diante das descobertas, estrelas petistas acabaram presas — entre elas, o próprio Lula e o ex-ministro José Dirceu. O ex-presidente ficou 580 dias encarcerado, mas acabou libertado depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) anulou as suas condenações. Na campanha é certo que os adversários dirão que o PT, ao defender a Petrobras a serviço dos interesses do povo, quer na verdade retomá-la para o controle do partido. Resta saber qual narrativa prevalecerá.