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Lula procura velhos caciques do MDB de olho em palanques para 2022

Ex-presidente se articula para tentar construir uma candidatura para além da esquerda na tentativa de voltar ao Palácio do Planalto

Por Edoardo Ghirotto Atualizado em 4 jun 2024, 13h47 - Publicado em 21 Maio 2021, 06h00
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  • REENCONTRO - Lula e José Sarney: os ex-presidentes foram aliados nos governos petistas -
    REENCONTRO - Lula e José Sarney: os ex-presidentes foram aliados nos governos petistas – (Ricardo Stuckert/PT)

    Depois de 580 dias preso, acusado de diversos crimes de corrupção, Luiz Inácio Lula da Silva quer provar ao universo político e ao mercado financeiro que o “velho Lula” está de volta. Desde que o Supremo Tribunal Federal (STF) o recolocou no tabuleiro eleitoral, o petista modulou o discurso para soar menos como um agitador de esquerda e mais como o presidente da República que governou o país por oito anos e conseguia dialogar com boa parte do espectro político e econômico. Para repor esse verniz à imagem, nada melhor do que se cercar dos velhos companheiros que o ajudaram no período em que comandou o país. Dentro dessa estratégia de reaproximação, que tem sido intensa e vai da Faria Lima a Brasília, uma legenda se destaca: o MDB.

    Os primeiros alvos nessa empreitada foram quatro caciques com profundo conhecimento político, mas que, até recentemente, pareciam aposentados. O passo inicial foi dado numa longa ligação telefônica com Renan Calheiros (AL). Ambos chegaram à conclusão de que seria um erro se reunirem no momento em que o alagoano é o relator da CPI da Covid-19, que investiga os desmandos de Jair Bolsonaro na pandemia. Mas Renan prometeu se tornar o fiador desse reencontro de antigos aliados e incentivou Lula a estar pessoalmente com outros luminares que exercem grande influência na legenda e também em seus estados. Foi exatamente depois desse telefonema que o petista foi a Brasília se reunir com o ex-­presidente José Sarney (MA) e os ex-­presidentes do Senado Eunício Oliveira (CE) e Jader Barbalho (PA).

    ANIMADO - Eunício Oliveira: o ex-presidente do Senado é um dos principais fiadores ao apoio a Lula dentro do MDB -
    ANIMADO - Eunício Oliveira: o ex-presidente do Senado é um dos principais fiadores ao apoio a Lula dentro do MDB – (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

    Embora alguns ainda duvidem, Lula já se decidiu pela candidatura — e, na prática, está em campanha. O ex-­presidente sabe que o tempo joga a seu favor e tem sido cauteloso em todas as (dezenas de) conversas. Apesar de perguntar qual é a pretensão eleitoral de cada interlocutor, o petista não apresenta planos imediatos de aliança nem faz imposições para subir em palanques estaduais. Em primeiro lugar, ele agradece o que considera lealdade dos emedebistas no tempo em que esteve preso. Mesmo com o partido liderando o impeachment de Dilma Rousseff em 2016, Lula nunca deixou a relação com esses velhos caciques se deteriorar. No momento, está tão interessado em reeditar a parceria que pediu para ser atualizado sobre como funciona o sistema de votação da executiva nacional do MDB e já mapeou quantos votos cada liderança possui.

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    Exercer influência nos palanques estaduais, no entanto, é a forma mais eficaz para Lula garantir apoio num partido que se comporta como uma federação cheia de divisões internas. Um acerto com Eunício minimizaria a influência de Ciro Gomes no Ceará, o principal reduto eleitoral do pedetista. Uma parceria com Jader colocaria Lula no palanque do governador do Pará, Helder Barbalho, que deve buscar a reeleição com o apoio da esquerda local. Já Sarney tem manifestado preferência por uma terceira via, mas dificilmente se aliaria a Bolsonaro num segundo turno contra o petista. A filha do ex-presidente, Roseana Sarney, deve sair candidata a deputada federal, endossando Lula. Nessas articulações, o petista se reaproximou do ex-ministro Edison Lobão, um personagem ainda influente no Maranhão, e mantém uma boa relação com o ex-­deputado Lúcio Vieira Lima, o principal mandachuva do MDB baiano e irmão do preso Geddel — ambos foram condenados por lavagem de dinheiro e associação criminosa no episódio da fortuna de 51 milhões de reais encontrada em um apartamento em Salvador em 2017.

    PALANQUE - Jader Barbalho: acerto com o senador incluiria o apoio de Lula à reeleição de Hélder Barbalho ao governo do Pará -
    PALANQUE - Jader Barbalho: acerto com o senador incluiria o apoio de Lula à reeleição de Hélder Barbalho ao governo do Pará – (Edilson Rodrigues/Ag. Senado)

    O ex-presidente também monitora as movimentações de emedebistas que preferem um nome de centro para 2022. O atual mandatário da legenda, Baleia Rossi (SP), planeja lançar uma pré-candidatura do partido à Presidência para ampliar o “valor de mercado” da sigla nas mesas de negociação. Um dos nomes cogitados para assumir esse papel é o da senadora Simone Tebet (MS), a mesma que foi abandonada pelo partido quando tentou disputar a presidência do Senado. Baleia também tentou filiar Luiz Henrique Mandetta (DEM), mas o ex-ministro da Saúde disse a pessoas próximas que só mudaria de sigla se fosse disputar o governo de Mato Grosso do Sul. Outra opção é se engajar na candidatura do governador de São Paulo, João Doria (PSDB). A questão é que há desconfiança entre os emedebistas sobre a viabilidade eleitoral do tucano. Junto ao DEM, o MDB já foi considerado parte de um tripé que daria sustentação nacional a Doria. Foi essa articulação que levou o partido a emplacar Ricardo Nunes como vice do prefeito de São Paulo, Bruno Covas, morto no dia 16 — o projeto virou pó com a recente briga que se instaurou entre o tucano e a cúpula do DEM. Consciente de que o MDB pode tomar qualquer direção, Baleia permanecerá comedido com as palavras e se esforçará para não se indispor com ninguém antes da hora.

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    LEIA TAMBÉM: Na contramão de Bolsonaro, Doria e Ciro, Lula vai submergir

    Na linha de candidatura própria do MDB, um movimento mais tímido tenta convencer o ex-presidente Michel Temer a concorrer ao Planalto. Aos 80 anos, ele não tem demonstrado disposição para isso, mas voltou a articular nos bastidores para assegurar influência nas decisões. Temer tem liderado debates internos para preparar uma segunda versão de “Uma Ponte para o Futuro”, como ficou conhecido o documento de medidas que balizou o seu período no Palácio do Planalto. Emedebistas estão aproveitando o fracasso da gestão de Bolsonaro para defender o legado do ex-presidente, que contempla a aprovação do teto de gastos e da reforma trabalhista. Depois que deixou a Presidência, ele foi preso duas vezes acusado de corrupção, mas, na terça-­feira 18, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, anulou as decisões do juiz Marcelo Bretas, na Justiça Federal no Rio de Janeiro, e transferiu os processos do emedebista para Brasília.

    DISCRIÇÃO - Baleia Rossi: o presidente do MDB apoia um projeto de centro, mas tem falado pouco sobre a eleição -
    DISCRIÇÃO - Baleia Rossi: o presidente do MDB apoia um projeto de centro, mas tem falado pouco sobre a eleição – (Cleia Viana/Câmara dos Deputados)

    Foi com Temer, aliás, que o MDB alcançou o maior protagonismo nos últimos anos, quando ocupou não só a Presidência, mas também toda a linha de frente do governo, com nomes como Romero Jucá, Eliseu Padilha, Moreira Franco e Geddel. Em 2018, com o partido atingido em cheio pela Lava-Jato, muitos dos políticos tradicionais da sigla foram varridos para fora do Congresso, incluindo Eunício, Jucá, Lobão e Garibaldi Alves (RN). Na eleição de 2020, novos tropeços foram colhidos pelos caciques. Eunício, por exemplo, não conseguiu eleger nem o prefeito de sua cidade natal, Lavras da Mangabeira (CE).

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    Enquanto investe pesado nos bastidores para se reconectar com esses antigos parceiros do MDB, Lula deve agir em público de forma bem mais discreta. Depois da agenda extensa em Brasília e do Datafolha que o coloca com 41% dos votos contra 23% de Bolsonaro, o petista pretende não banalizar suas aparições. Além das pesquisas, Lula tem a seu favor a disposição cada vez menor dos caciques do MDB para apoiar Bolsonaro num eventual segundo turno. Até mesmo o pernambucano Jarbas Vasconcelos, um histórico desafeto do PT, confidenciou a aliados que apertaria o 13 na urna para evitar a permanência de Bolsonaro. A direção do MDB em Pernambuco já até avisou ao líder do governo no Senado, Fernando Bezerra, que não há a menor possibilidade de a sigla abrigar a candidatura do filho do senador, o prefeito de Petrolina, Miguel Coelho, ao governo do estado.

    A perspectiva de poder não só reaproxima velhos amigos como cura feridas. É verdade que o impeachment de Dilma em 2016 provocou desconfiança na militância petista em relação ao MDB — a acusação mais comum a Temer é de traição —, mas Lula e os caciques da sigla parecem dispostos a superar qualquer trauma em nome do retorno ao governo em 2022.

    Publicado em VEJA de 26 de maio de 2021, edição nº 2739

    + ‘Lula é líder importante e deve ser candidato’, diz tucano Aloysio Nunes

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