A imagem supostamente “satanista” do presidente Michel Temer influenciou diretamente na estratégia de marketing da campanha vitoriosa da chapa Dilma-Temer nas eleições de 2014. Pesquisas internas coordenadas pelo marqueteiro João Santana e pela sócia e esposa dele, Mônica Moura, apontavam queda nas intenções de voto nas vezes em que a figura de Temer era explorada eleitoralmente. Os detalhes desta avaliação foram dados no depoimento em que Santana prestou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para embasar o processo de cassação da chapa presidencial vencedora da disputa de 2014. A íntegra do depoimento de João Santana veio à tona nesta quinta-feira, às vésperas de o TSE julgar se cassa ou não o mandato de Temer, alçado à presidência após o impeachment de Dilma Rousseff.
Conforme o relato do marqueteiro, que acabou se tornando delator da Operação Lava Jato, ainda em 2014 Michel Temer o questionou sobre o motivo pelo qual aparecia tão pouco nas peças publicitárias da campanha. Foi quando o marqueteiro disse ter cometido um “sincericídio” e aberto o jogo a Temer. “Vou falar para o senhor um dado que ocorre sistematicamente e que me surpreende. O senhor é sistematicamente acusado, principalmente nos grupos de São Paulo, do Sudeste e do Sul, de satanismo”, disse Santana, ao relatar ao TSE as explicações que deu a Temer. O próprio marqueteiro já havia estudado ocultismo na juventude e arriscou uma explicação para a associação do nome do político ao do Tinhoso.
“Talvez por causa do seu nome Michel Temer, que é um nome de um satanista francês muito conhecido do século XIX, e talvez por isso”, afirmou o marqueteiro. Segundo ele, era recorrente haver questionamentos da equipe de Temer sobre a baixa exposição dele nas campanhas publicitárias na eleição de 2014. Vices sempre reclamam, dizia João Santana. Mas no caso de Temer, não bastassem os protestos, a imagem dele, ligada a teses de adoração do diabo, afugentava os eleitores. Nas eleições daquele ano, o próprio Temer veio a público para afirmar que boatos de que ele teria admitido ser satanista vieram à tona ainda em 2010.
Na campanha de 2014, relatou João Santana, programas de Dilma exibidos na TV eram avaliados, quase que diariamente, em pesquisas qualitativas por um grupo de 12 pessoas das principais cidades do país. “Imediatamente se estimula se foi positivo ou não, passa o relato para a gente e etc. Com o PMDB e com o presidente Temer era o contrário”, disse o marqueteiro à Justiça Eleitoral. “O presidente Temer, além de não somar, estava restando, tirando votos. Quando ele aparecia, realmente…”, completou ele.