Deputado de primeiro mandato e recordista de votos em 2018 no Rio ao colar sua imagem à do presidente, Hélio Negão disputará em outubro não só um novo mandato no Congresso, mas também espaço cativo entre bolsonaristas pelo posto de quem empenha mais fidelidade ao ex-capitão.
O senhor foi eleito com o nome do presidente Bolsonaro, que agora anunciou apoio a outros candidatos. Se sente abandonado? Tenho uma amizade de mais de vinte anos com o presidente. Somos irmãos. Estou torcendo para que outras pessoas próximas dele, como o Max Guilherme, também vençam. Tem voto para todo mundo. Se eu tiver de ganhar, vou ganhar, inclusive vou colocar o nome do presidente novamente junto ao meu na campanha.
Essa união entre os apoiadores de Bolsonaro inclui também o ex-PM Fabrício Queiroz? Só tenho contato com o Queiroz pelas matérias que saem na imprensa. Ele está vivendo a vida dele e eu, a minha. A gente se afasta naturalmente de algumas pessoas, sem uma razão ou outra. A vida tem suas consequências.
A razão desse afastamento é o caso das rachadinhas? Eu não tenho o que falar sobre rachadinha. Não entendo por que focaram tanto em Flávio, Flávio, Flávio. A gente sabe que houve rachadinha com outros parlamentares na Alerj, mas no que eu conheço do Flávio ele não ia fazer isso. Flávio é um cara leal, muito correto e acredito nele. Sei que ele não fez coisa errada.
Sem a onda que elegeu Bolsonaro em 2018 é mais difícil para um bolsonarista como o senhor ser reeleito? A eleição vai ser diferente e tem de ser. Voto e carona só ganha quem pede. As pessoas falam assim: “Eu votei no deputado Hélio porque ele andava com o presidente, defende os princípios dele, pátria e família”. Dentro desses princípios eu fui leal ao presidente e sempre estive próximo. Acho que eu cumpri esse papel. Espero esse retorno.
Bolsonaro já foi processado por racismo por comparar negros a bois, e o senhor foi utilizado como exemplo de que o presidente não seria racista. Eu mesmo nunca sofri racismo. Na minha infância e juventude não tinha esse negócio de racismo. Era negão, gordão, orelhudo, cabeçudo, leite azedo e se levava tudo na esportiva. Existem muito menos casos de racismo do que os que aparecem. Os poucos casos de racismo que ocorrem devem ser punidos com severidade, mas é preciso colocar no contexto. Não se pode pegar o tema e simplesmente banalizar.
Para o senhor, o que seria um caso de racismo? Uma atitude racista é aquela que promove discriminação com uso de violência física, moral ou psicológica, como ocorreu recentemente com um médico francês que simplesmente agrediu um porteiro no Rio pelo fato de ele ser preto, chamando-o de macaco. Isso tem de ser punido. Também é racismo, e nesse caso aceito por muitos, quando pardos são discriminados em universidades pelo fato de não se encaixarem nas cotas de pretos. Eu já fui chamado de capitão do mato e de negro da Casa Grande, mas não considero racismo. Já estou acostumado. Se eu fosse um cara de esquerda, só pela palavra “negão” eu já estava processando.
Por que o senhor é contra as cotas raciais? O Estatuto da Igualdade Racial foi um erro. O termo já causa espanto e sugere que igualar as raças só favorece a raça negra. Por que só negro tem cota em concurso público? Eu conheço a pobreza e ela não tem cor nem raça de estimação. A pessoa é pobre não porque seja preta, parda ou branca. Por isso defendo o Estatuto da Oportunidade Social, que permitirá melhores oportunidades para quem realmente precisa.
Publicado em VEJA de 24 de agosto de 2022, edição nº 2803