Em seu primeiro ato de campanha como candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad se concentrou nos programas sociais populares durantes os governos petistas, em especial na área da educação, e direcionou seu discurso para o tom do “nós contra eles” – “nós”, a sua coligação que manteria esses programas; “eles”, os políticos que trabalhariam para desmontá-los.
Ao lado da sua esposa, Ana Estela Haddad, professora da USP, e da candidata a vice, Manuela D’Ávila (PCdoB), ele falou a um grupo de estudantes que ingressaram no ensino superior por meio do Programa Universidade para Todos (ProUni), de bolsas de estudo no ensino superior. Os jovens se alternaram ao microfone no pequeno espaço de uma companhia teatral no centro de São Paulo para contar as suas trajetórias para o presidenciável petista, que foi ministro da área nos governos dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.
Em sua fala, Haddad tentou imprimir a narrativa de que o impeachment de Dilma foi um “golpe” contra a ascensão social dos mais pobres e que somente a sua eleição pode preservar os programas implementados nos governos do PT. “Eles disseram o seguinte: ‘Esse projeto tem força eleitoral. A gente afasta uma presidente, prende o outro e mandamos mais 500 anos no país'”, disse, antes de emendar, para a risada geral: “Só que não”.
O ato reservou um espaço especial para a fala de Ana Estela, que também trabalhou no governo Lula e se apresentou como uma das idealizadoras do ProUni. Após lembrar das dificuldades iniciais do projeto, a mulher do candidato petista chorou e foi abraçada.
Por curiosidade, uma das principais barreiras iniciais do programa foi imposta pela União Nacional dos Estudantes (UNE), que tinha a própria Manuela como uma de suas dirigentes na época e via no ProUni uma espécie de “privatização disfarçada”. A comunista relembrou a história e registrou o “esforço” de Haddad para convencer a entidade a mudar de ideia sobre o tema.
Ao final, todos os presentes foram para o centro do palco para uma foto que, como divulgou a mediadora do evento, ia ser “dirigida” pelo fotógrafo oficial da campanha. Ali ficava claro o objetivo da primeira agenda do candidato petista: os registros serão úteis para uma campanha que tentará relacioná-lo, na percepção da população, ao legado do governo Lula, contendo dessa forma a transferência de votos que seriam destinados ao ex-presidente para outros candidatos, como Ciro Gomes (PDT) e Marina Silva (Rede).
‘Bíblia’
Em entrevista coletiva antes do encontro, Haddad desconversou sobre o papel de Lula em sua campanha e eventual governo. Segundo o ex-prefeito de São Paulo, se for eleito, ele seguirá uma “bíblia”, que é o programa de governo registrado pela chapa no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e que, segundo diz, servirá para garantir a continuidade do projeto de Lula.
“Nós fizemos um plano de governo pormenorizado. A sociedade fará vigilância do que estamos fazendo a partir desse programa”, afirmou o candidato petista. “É um projeto coletivo, que teve Lula como principal inspiração e liderança”.
Haddad anunciou duas propostas que pretende defender ao longo das próximas semanas, com o avanço da atuação federal na educação e na segurança pública. A primeira consiste em fazer com que “escolas mantidas com recursos federais” – nas quais o candidato inclui as do chamado Sistema S (Sesi, Senai e Senac) e os colégios militares – “adotem” escolas públicas estaduais com maus resultados pelo Brasil. O objetivo seria auxiliar na gestão escolar do ensino médio.
A segunda é federalizar crimes ligados às facções criminosas – assim, o combate a grupos como o PCC (Primeiro Comando da Capital) e o Comando Vermelho passaria a ser de atribuição exclusiva da Polícia Federal. “Se a Polícia Federal tiver um departamento que cuide dos crimes relativos às organizações criminosas, nós vamos ter efeitos importantes. Como liberar as polícias militares e civis para cuidar da vida do cidadão, de homicídios, feminicídios, estupro e roubo, por exemplo”, argumentou.
Teto de gastos
O candidato do PT prometeu que, se eleito, vai revogar o teto dos gastos públicos, medida aprovada pelo Congresso Nacional em 2016 e que limita o crescimento das despesas do governo ao teto da inflação do ano anterior. Segundo Haddad, a mudança será feita através de uma nova emenda constitucional que será enviada ao Legislativo logo no início do governo.
“Não existe correlação alguma entre essa medida esdrúxula e responsabilidade fiscal”, criticou. Para o presidenciável, os investidores do mercado financeiro, que têm demonstrado receio com a sua candidatura, vão retornar aos poucos pela lembrança da “época de ouro” vivida, segundo ele, durante o governo Lula.
Questionado sobre o fato de o candidato do PDT, Ciro Gomes, ter feito críticas a ele nos últimos dias, Haddad disse que não vai “ficar batendo nem alisando ninguém”. “Não queremos agredir ninguém, até porque a gente conta com o apoio no segundo turno de muita gente que está do outro lado.”