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Guerra cultural de Bolsonaro inviabiliza Guedes no governo, diz sociólogo

No Fórum VEJA EXAME, Demétrio Magnoli cita episódio do diesel e avalia que doutrina liberal de ministro não se mistura ao nacional-populismo do presidente

Por João Pedroso de Campos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 15 abr 2019, 20h13 - Publicado em 15 abr 2019, 10h57
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  • A suspensão do aumento de 5,7% no preço do óleo diesel, vendido pela Petrobras, anunciado pelo governo no fim de semana passado, é prova inequívoca e prática da absoluta inviabilidade do “casamento” – metáfora frequente do presidente Jair Bolsonaro – entre ele e o superministro da Economia, Paulo Guedes. A avaliação, decorrente da conclusão lógica de que intervencionismo e liberalismo não combinam, foi feita pelo sociólogo Demétrio Magnoli nesta segunda-feira, 15, durante sua participação no Fórum VEJA EXAME – 100 Dias de Governo, em São Paulo, e se soma a outra: a de que a chamada “guerra cultural” levada a cabo pelo presidente inviabiliza a presença do ministro em sua equipe.

    Magnoli descreveu a tal cruzada como movimento contrário à ordem mundial instituída após o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, que pressupõe, entre outros, o fortalecimento de instituições internacionais multilaterais, economias abertas e interligadas e a alternância entre partidos de centro-esquerda e centro-direita no poder em regimes democráticos.

    Para Magnoli, não é possível que liberais, como Guedes, unam-se a nacional-populistas, como ele classifica Bolsonaro, por causa da narrativa da guerra cultural adotada pela ala “ideológica” do governo – o próprio presidente e seus filhos incluídos –, que denuncia a união entre “globalistas” e comunistas em uma conspiração de escala mundial.

    O sociólogo classifica a aliança como um “pacto profano”, um “Frankenstein”. “É inviável, é óleo e água, a doutrina liberal não se mistura com a nacional-populista. Esse governo é marcado, já marcado, nos 100 dias, por crises permanentes entre nacional-populistas, promotores da guerra cultural, e os liberais”, disse o sociólogo. “O discurso da guerra cultural não é um discurso que cerca o presidente, que se aproxima do presidente, é um discurso do próprio presidente e seu clã familiar”, ressaltou Demétrio Magnoli, entrevistado pelo diretor de redação de VEJA, André Petry, e o diretor editorial de EXAME, André Lahóz Mendonça de Barros.

    Na avaliação de Magnoli, a desmoralização de moderados à esquerda e à direita, que rompeu o eixo político da Nova República, impulsionada por um cenário favorável a Bolsonaro, permitiu a improvável aliança entre liberais e nacional-populistas, que permeou a metamorfose do capitão da reserva e deputado do baixo clero em presidente.

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    “A aliança é tão inviável que, para que ela se formasse, foi necessária a destruição do sistema político da Nova República. Foi só com isso, uma combinação extraordinária de depressão econômica, Lava Jato, desmoralização dos dois grandes partidos da Nova Republica, PT e PSDB, que se permitiu que surgisse esse Frankenstein, a aliança entre liberais e nacional-populistas”, declarou Magnoli, que prevê um agravamento do conflito entre liberais e nacional-populistas para os próximos 100 dias de governo. Ele classifica como “ilusão” imaginar que um “globalista” como Guedes sobreviva na equipe de Bolsonaro.

    “Aqueles que acreditaram, um dia, na campanha, que seria possível uma convivência eficaz entre equipe econômica liberal e núcleo governista nacional-populista, deveriam repensar a sua crença. Se nós não podemos ter nem mesmo a autonomia operacional da diretoria da Petrobras, cotada em bolsa com acionistas, por que ainda se acha que esse governo poderia fazer as reformas econômicas necessárias ao país, a começar pela urgente reforma previdenciária?”, questionou.

    Para o sociólogo, o episódio do diesel deve ter feito o ministro da Economia perceber que está em um governo à la Dilma Rousseff, com sua política econômica intervencionista, e indicado a ele que ou deixa o governo ou troca suas convicções econômicas pela permanência no cargo. Demétrio Magnoli entende que a segunda hipótese, que converteria o liberal em um “mero agente da política dos nacional-populistas”, é a mais provável.

    “Olavo de Carvalho é Rasputin”

    Em sua participação no Fórum VEJA EXAME, Demétrio Magnoli também comentou a influência do ex-astrólogo e autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho sobre o governo Bolsonaro. “Diria que ele é a figura mais influente do atual governo, o Rasputin do atual governo”, comparou o sociólogo, citando o monge de origem humilde que se tornou o conselheiro-mor da família do czar Nicolau II, na Rússia.

    Magnoli, no entanto, classifica os pensamentos disseminados por Carvalho como “plágio” e “paráfrases malfeitas de pensadores românticos do fim do século XIX e do início do XX”, como o historiador e filósofo alemão Oswald Spengler, autor de O Declínio do Ocidente.

    “O que Olavo faz são paráfrases dizendo que o Ocidente está em declínio por causa dessas bactérias iluministas [citadas por Spengler]. Isso é plágio, plágio malfeito. Não é filosofia original. Se ele tem alguma coisa de original, é juntar o individualismo do colono armado americano, do faroeste, a essa base romântica europeia de Spengler. Isso é coisa não de filósofo, mas de um mecânico que junta peças”, ironizou.

    Citando a influência de Olavo de Carvalho nas nomeações dos ministros da Educação, Abraham Weintraub, e das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, Magnoli observou o papel moderador dos ministros militares no governo. “Militares se empenham em fazer o Frankenstein dar certo. Eles temem que, se o Frankenstein der errado, os militares serão responsabilizados pelo fracasso do governo, que a imagem deles seja mais uma vez enlameada. Militares gostam de missões impossíveis”, declarou o sociólogo.

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