Gráfica usada por ‘laranjas’ do PSL não funcionava havia dois anos, diz PF
Batizada de Sufrágio Ostentação, operação identificou indícios de irregularidades em campanhas com custo por voto até trinta vezes maior que eleitos
Declarada como prestadora de serviço por supostas candidatas”laranjas” do PSL em Minas Gerais, a gráfica de Reginaldo Donizete Soares não funcionava havia mais de dois anos, segundo investigações da Polícia Federal. Reginaldo é irmão de Roberto Soares, um dos principais assessores atual do ministro do Turismo Marcelo Álvaro Antônio à época das eleições.
A constatação foi feita por agentes em meio ao inquérito que apura se candidatas mulheres foram utilizadas como “laranjas” para desviar parte dos 30% do Fundo Eleitoral reservados a elas. Durante o pleito do ano passado, Marcelo Álvaro, que também é deputado licenciado, foi o presidente do diretório mineiro do PSL, responsável pela definição das candidaturas e pela distribuição dos recursos públicos.
Nesta segunda-feira, 29, a Polícia Federal desencadeou a Operação Sufrágio Ostentação. Entre os alvos, foi cumprido mandado de busca e apreensão na sede do PSL em Minas Gerais. Segundo o delegado Marinho Rezende, o nome está relacionado aos valores empenhados: enquanto os candidatos eleitos gastaram uma média de 10 reais por voto, as supostas laranjas do partido declararam um investimento de até 300 reais por voto recebido.
Também foram cumpridos mandados de busca na casa de Reginaldo Soares e em seis gráficas, distribuídas entre as cidades mineiras de Contagem, Lagoa Santa, Belo Horizonte e Coronel Fabriciano.
O ministro Marcelo Álvaro Antônio não é formalmente investigado na operação desta segunda-feira. De acordo com Rezende, responsável pelo inquérito, o foco desta fase do inquérito foram as declarações de prestação de contas das candidatas. “Investigações sobre dirigentes do partido serão feitas depois”, disse, completando que, sobre ao menos quatro candidatas, foram identificadas possíveis irregularidades.
Os nomes não foram citados. Candidatas da legenda nas eleições do ano passado denunciaram à PF e ao Ministério Público o esquema, que funcionaria basicamente com o repasse dos valores às candidatas – recursos que, posteriormente, seriam devolvidos ao partido e seus dirigentes. Ainda não está claro se o objetivo era a apropriação dos valores ou o repasse a candidatos homens, subvertendo a cota determinada pela lei.
Ministro
Desde que começaram as suspeitas sobre o caso, o ministro Marcelo Álvaro nega seguidamente qualquer irregularidade. Segundo ele, “a distribuição do Fundo Partidário do PSL em Minas Gerais cumpriu rigorosamente o que determina a lei” e que ele não pode “ser responsabilizado pela contratação de prestadores de serviços em campanhas de outros candidatos”.
Marcelo Álvaro também é crítico da relação entre os valores gastos e os votos obtidos por cada candidato como indicativo de ilegalidades. “Se existisse qualquer relação entre gasto na campanha e votos, o presidente Jair Bolsonaro, que gastou vinte vezes menos que o outro candidato, não teria sido eleito”, afirmou.
(Com Estadão Conteúdo)